" Os fatos estão aí, só não vê quem não quer. Esses escândalos abalaram e continuam abalando a governabilidade, a credibilidade do Brasil".
Por Jerferson Miranda
O professor e ex-Vereador Ivan Sadeck(foto),
vestido com a camisa de seu clube de coração (Botafogo), recebeu nossa
reportagem em sua residência e nos concedeu entrevista exclusiva, onde
fala sobre a atuação da igreja católica nos dias de hoje, atuação do
governo do Estado para Santarém e região Oeste, governo do prefeito
Alexandre Von, escândalos que envolvem o PT no Brasil, esfacelamento do
Partido em Santarém e outros assuntos. Veja a entrevista na íntegra:
Jornal O Impacto: Como uma pessoa bastante religiosa, qual sua avaliação sobre a igreja católica nos dias atuais?
Ivan Sadeck: A igreja
católica no mundo todo passa por mudanças, como também passa por
mudanças na sociedade mundial. Um dos grandes avanços que eu aponto como
positivo foi a escolha do Papa Francisco. Veio em bom tempo, boa hora,
no momento em que a Igreja católica estava precisando de alguém com esse
carisma, de alguém com essa simplicidade e humildade como ele tem, pra
nos dizer que precisamos ser presença no mundo, uma Igreja humilde,
simples e para os pobres. Uma igreja voltada para a sociedade que está
clamando e tem sede de Deus, que busca por diversos caminhos esse
encontro com o Deus da vida. O Papa Francisco trouxe à Igreja um ar
novo, um espírito novo, assim como João XXIII foi, quando convoca o
Vaticano. Fazendo um paralelo, eu digo que foi um sopro do espírito de
Deus que fez com que ele pudesse ter sido escolhido para conduzir a
Igreja de Jesus Cristo espalhada pelo mundo todo. Com todo esse espírito
de uma Igreja missionária, de uma Igreja acolhedora, de uma Igreja que
leva essa mensagem de justiça e paz, mas, sobretudo, de fraternidade, de
carinho e de amor. Por isso eu tenho muita esperança e confiança que a
presença do Papa Francisco possa proporcionar tempos novos para a Igreja
Católica, a partir das próprias mudanças que ele tem provocado dentro
do Vaticano, mais precisamente da cúpula e da hierarquia do Vaticano.
Isso é positivo e a Igreja precisa se renovar e tentar viver dentro dos
valores dos princípios do Evangelho, do espírito da humildade, da
simplicidade, da pobreza, da obediência, mas, sobretudo, da luta pela
dignidade e pelo respeito à vida, para que ele possa ser fiel à missão
que o próprio Cristo lhe confiou.
Jornal O Impacto: Como o senhor vê a atuação do governo do Estado com a educação em Santarém e região Oeste do Pará?
Ivan Sadeck: Com
tristeza, com pesar e com uma certa indignação. Porque não se admite que
um governo que se diz do povo paraense, um governo que se diz voltado
para a educação, segurança, saúde, etc, tenha tratado a educação de uma
maneira mais irresponsável e vergonhosa como foi nesses últimos anos.
Não é por falta de dinheiro. Dinheiro existe, o Governador fez um acordo
com o BID no valor de 50 milhões de dólares, para fazer as melhorias,
reformas e até construção de algumas escolas, mas o que se vê é que
existem escolas que estão há dois anos sendo reformadas e até hoje não
foram concluídas. Você não faz educação só com discursos, com promessas
de campanhas, só com demonstração de números, como o governador Simão
Jatene tem feito com facilidade. Isso não se traduz na prática e não se
concretiza. Estamos aí, passando por necessidades e inúmeras
dificuldades, sem falar na outra ponta da educação, que é o professor
(educador), que precisa anos após anos estar fazendo greve para
reivindicar melhorias salariais, para serem respeitados os acordos
feitos. Isso tudo leva a uma educação a esse índice tão baixo do IDEB,
pois o Pará se inclui dentro dos estados da Federação que possui um
baixíssimo índice do IDEB. Todos esses fatores contribuem para o atual
estado da nossa educação. Então, é preciso que o governo do Estado seja
sensível, que faça valer seus discursos, demonstração de números e
transforme isso numa realidade, de melhorias para nossas escolas, para
nossos colegas professores, para que a educação seja colocada no lugar
que ela bem merece, que é com respeito e dignidade.
Jornal O Impacto: Como o senhor analisa o governo do Prefeito Alexandre Von?
Ivan Sadeck: Segue
quase um pouco a mesma linha do governo de Simão Jatene, pois ambos são
do PSDB. Embora Alexandre aqui ou ali demonstre fazer alguma coisa, mas
deixa muito a desejar. Eu não quero tecer nenhuma crítica contra o
Alexandre Von, mas eu penso como ele hoje é um aliado do Governador, do
mesmo partido, pudesse fazer mais e melhor por Santarém. Você hoje tem
problemas na saúde, esse gargalo no Hospital Municipal; problemas no
atendimento nos postos de saúde; problemas com a questão da
infraestrutura, onde os bairros periféricos de nossa cidade clamam por
melhorias, pois vemos a população diariamente se manifestando,
contestando e protestando diante da situação. Então, penso que os
recursos poderiam ser melhores aplicados, as obras fossem feitas e que
houvesse mais zelo e mais cuidado com a coisa pública, para que Santarém
pudesse ser considerada e respeitada como a “Pérola do Tapajós”. Não
podemos dizer que nossa cidade é a “Pérola do Tapajós” só nas poesias,
nos poemas ou na música, o Prefeito precisa transformar Santarém na
“Pérola do Tapajós”, em uma realidade de vida, para seu povo e sua
gente. Às vezes você diante de certas situações, dá-se a sensação de que
parece que não temos autoridades. Falta o poder dentro deste Município,
para a questão do transporte, do trânsito, da violência, etc. O poder
municipal pode sim, junto às demais forças vivas e órgãos presentes,
somar esforços para combater toda essa situação. É inadmissível que uma
cidade como Santarém tenha um índice de violência de mortes no trânsito
que é comparado com as grandes capitais. Isso é inconcebível. Falta
maior fiscalização, falta punição, pois esse é um dos maiores problemas
que temos em todo País.
Jornal O Impacto: Os escândalos Mensalão, Petrobras e outros, abalaram as estruturas do PT no Brasil?
Ivan Sadeck: Com
certeza! Não tem nem o que discutir. Não é só uma questão da
perseguição, como muitos querem afirmar, da mídia ou da oposição. Os
fatos estão aí, só não vê quem não quer. Esses escândalos abalaram e
continuam abalando a governabilidade, a credibilidade do Brasil. É
inadmissível esses escândalos todos que vêm desde 2004 pra cá. Começou
com o Mensalão, onde todo mundo dizia que era só conversa, mas está aí,
foi provado. E agora aparece o Lava Jato, o escândalo da Petrobras. E se
forem a fundo, mais escândalos aparecerão. O que a mim entristece, me
indigna e me deixa bastante revoltado, é que o Partido se apresentou
para a sociedade brasileira como o defensor da moralidade, da
honestidade, da seriedade, compromisso e, já tinha dado demonstração
disso em governos municipais aonde eles tinham governados as
prefeituras, experiências fantásticas, mas quando chegaram ao poder, deu
no que está dando aí. Isso é decepcionante, isso desencantou e deixou
muita gente que apostava e confiava, descrente. Por isso você vê os
comentários mais desairosos contra a política e políticos brasileiros. É
uma vergonha e um prejuízo enorme para os avanços das conquistas que já
foram feitas, por conta de todos esses escândalos. O que se espera
disso? Que as forças que têm o compromisso de averiguar, processar, de
punir e condenar, que façam. Doa a quem doer, seja quem for. O que não
pode é deixar que crimes dessa natureza, como esse da Petrobras que é o
maior patrimônio do povo brasileiro, se vão pelo o ralo, para a lama ou
para o lixo, por conta de todos esses processos que estão aí. Se não
houver uma punição rigorosa, esse País vai ficar em uma situação que
ninguém vai mais acreditar e todo mundo vai se achar no direito de fazer
o que bem entender. Precisa-se começar a punir os culpados e
responsáveis, seja quem for. O partido que tinha dentro de seu espírito
de lutar em defesa dos trabalhadores, dos interesses nacionais, hoje
está envolvido dentro desse mar de lama de tantos escândalos, que tem
provocado dentro do próprio partido, reações muito fortes. É uma
situação difícil, eu lamento e nunca pensei que uma luta de mais de 20
anos para se chegar ao poder e, chegando fosse capaz de proporcionar
escândalos jamais vistos.
Jornal O Impacto: O senhor que
já foi Vereador, Secretário e um dos fundadores do PT em Santarém, qual a
análise que faz sobre as últimas eleições para Deputado? Existem
divergências políticas dentro do partido?
Ivan Sadeck: Eu não me
considero fundador do PT em Santarém. Eu assinei minha ficha de filiação
ao PT em 16 de maio de 1988, quando concorri como candidato à Câmara
Municipal de Santarém. Na ocasião, se formou a Aliança Popular Santarena
chamada PS, uma das maiores coligações que já fizemos naquela época,
com pessoas bastante jovens, imbuídas de ideais, de espírito muito
grande na defesa dos interesses de Santarém. Tentar tirar a velharia que
estava no poder há alguns anos, mas infelizmente nosso candidato que
era o Geraldo Sirotheau, pela PS, sofreu um baque inesperado com uma
manobra dessas raposas da política santarena, que fizeram com que
aparecesse um terceiro candidato e acabou perdendo a eleição para Ronan
Liberal. Mas conseguimos fazer um grupo bom de vereadores na Câmara
Municipal de Santarém: Alexandre Von, Paulo Gasolina, Geraldo Pastana
(que foi o Vereador mais votado da história santarena, naquele época),
eu também fui eleito e, o Hélcio Amaral. Foi uma equipe muito boa e nós
conseguimos fazer um trabalho de muita fiscalização em cima do governo
municipal de Santarém. E, diga-se de passagem, na história pelo que se
consta, foi essa legislatura que conseguiu encaminhar o processo de
rejeitar as contas de um Prefeito de Santarém que até então era aprovado
a bel prazer, contrariando a decisão do Tribunal de Contas dos
Municípios, o que tornou-se um candidato inelegível em 1992. O grande
problema, é que a maior parte das pessoas que se colocam como candidatas
para representar o povo, entra na vida pública para se beneficiar, para
se locupletar, para enriquecer e transforma o poder em benefício
próprio e não ao serviço do povo e da comunidade, fechando os olhos para
os escândalos, para os desvios da coisa pública, para os problemas e
não tem coragem para denunciar tudo isso. Esse é o mal que nós temos, os
partidos muitas vezes são os guarda-chuvas a proteger certos candidatos
a essa prática. Então, nós temos como povo e sociedade organizada, de
combater os maus políticos e dizer não. Por isso nós temos a Lei da
Ficha Limpa que tem que varrer da vida pública todos os políticos
safados, desonestos e corruptos, que desviam o dinheiro público, pois
esse dinheiro desviado vai fazer falta à educação, saúde, saneamento
básico, infraestrutura, habitação e outros segmentos, já que esse
dinheiro é voltado para esses interesses. Um exemplo claro são as casas
do projeto “Minha Casa, Minha Vida”. Quantos milhões foram gastos ali? O
que faz o governo, o responsável pela obra? O que se manifesta a Caixa
Econômica, que foi a financiadora? O dinheiro foi para o ralo, o povo
não está morando lá e as casas são feitas bibelôs, pois quando chove
aquela área fica toda alagada. Esse é o problema, o governo não pune os
responsáveis, ou irresponsáveis. Com relação ao PT em Santarém, hoje o
Partido está esfacelado, com os grupos brigando só por seus interesses.
Na época em que montamos a estrutura para administrar o Município
existia os grupos, mas nos reuníamos pelo interesse do desenvolvimento
de Santarém. Hoje, infelizmente não é isso que vemos. O resultado está
aí, não conseguimos eleger ninguém para a Assembléia Legislativa e para a
Câmara Federal. Os membros do Partido devem reunir, meditar, ver onde
está o erro e reerguer o PT em Santarém. Na minha opinião, hoje não
temos nenhum nome para concorrer à Prefeitura de Santarém nas próximas
eleições.
Jornal O Impacto: O ex-deputado Lira Maia ainda é uma força política em Santarém e região?
Ivan Sadeck: Com
absoluta certeza. Acabou seu mandato como Deputado Federal, mas continua
como uma grande liderança em nossa região e, se ele for candidato à
Prefeito, com certeza terá êxito. O PSDB, que hoje administra o
Município com o Alexandre Von, dificilmente sairá vitorioso se Lira Maia
deixar essa aliança. Vamos esperar para ver.
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