O Consórcio Norte Energia foi cobrado
ontem (8), durante audiência pública na Câmara dos Deputados, a cumprir
as condicionantes impostas para a construção da Usina de Belo Monte, na
bacia do rio Xingu, próximo ao município de Altamira, antes da concessão
de licença para a operação por parte do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente (Ibama). A cobrança foi feita por especialistas e parlamentares
das comissões da Amazônia; de Minas e Energia; e de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável. As condicionantes são uma série de
compromissos que o consórcio assumiu com o Ibama para diminuir os
impactos sociais e ambientais da obra, incluindo programas ambientais e
obras de infraestrutura nas cidades afetadas diretamente pela usina.
O vice-governador do Pará, Zequinha
Marinho, salientou que mais de 70% da obra já foi concluída, financiada
na sua maior parte com recursos públicos, e que apenas 30% das
condicionantes foram cumpridas. “O desenvolvimento do País não pode ser
feito à custa da desgraça do nosso povo”, destacou. Para a presidente da
Comissão da Amazônia, deputada Julia Marinho (PSC-PA), autora do
requerimento da audiência, junto aos deputados paraenses Arnaldo Jordy
(PPS) e Joaquim Passarinho (PSD), “a população vai ser profundamente
atingida com o início da operação da hidrelétrica”.
“Não aceitamos que a licença de operação
seja liberada antes que as condicionantes possam ser pelo menos
equiparadas aos 70% de execução da obra”, salientou Jordy durante o
debate. A procuradora da República em Altamira, Thais Santi,
representando o Ministério Público Federal do Pará, apontou que o
consórcio não está respeitando a principal condicionante de proteção
para os povos indígenas: o plano de proteção das terras indígenas, que
teria de ter sido iniciado em 2010 e finalizado em 2012. “Às vésperas da
concessão de licença para a operação de Belo Monte, estamos sem a
proteção das terras indígenas iniciada”, ressaltou. “Belo Monte
representa o etnocídio”, opinou.
O diretor socioambiental do Consórcio
Norte Energia, José Anchieta, garantiu que as condicionantes estão sendo
cumpridas. “Os pouco mais de 15% que ainda não foram cumpridos o serão
antes da concessão da licença operacional”, disse. Ele citou uma série
de obras de infraestrutura realizadas nos municípios afetados pela
construção da usina, como o investimento de R$ 485 milhões em saneamento
básico na região. De acordo com ele, o reassentamento promovido pelo
consórcio deslocou 15 mil pessoas que estavam em situação precária e
melhorou as condições de vida delas.
O representante do Movimento Xingu Vivo
Para Sempre, Claudio Curuaia Cambuí, acusou o Ibama de não participar de
reuniões com as comunidades indígenas. Segundo ele, há uma grande
violação de direitos humanos na região de Altamira. Já o defensor-chefe
da Defensoria Pública da União do Pará, Cláudio Luiz dos Santos, afirmou
que existe “uma dupla verdade” sobre o cumprimento das condicionantes e
que alguém está mentindo. Conforme ele, quem conhece a realidade da
região sabe que há violação de direitos, desrespeito e violência contra a
população.
DENÚNCIA
O deputado Arnaldo Jordy, o
vice-governador Zequinha Marinho e representantes de organizações não
governamentais se reuniram, na terça-feira, 7, com o presidente do
Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, para discutir questões
envolvendo a construção de Belo Monte. As principais reclamações
levadas pelo grupo foram relacionadas ao não cumprimento das
condicionantes. Segundo Jordy, nem 30% das 23 as medidas compensatórias
foram cumpridas. “Belo Monte causou em Altamira, por exemplo, uma
explosão populacional sem controle e planejamento, resultando em uma
explosão nos índices de violência urbana, mendicância, exploração sexual
de adolescentes e mulheres, e até tráfico humano”, afirmou o
parlamentar.
Jordy também citou indícios de
irregularidades no processo de indenizações das famílias que foram
retiradas das áreas onde os canteiros de obras foram instalados e
afirmou já ter pedido várias vezes informações e relatórios do consórcio
construtor, porém sem nenhum retorno. Carolina Piwowarczyk, do
Instituto Instituto Socioambiental (ISA), apresentou ao presidente do
TCU um relatório preparado pela entidade, no qual são listadas varias
irregularidades, e pelo qual a entidade afirma não haver condições para
que seja expedida a licença de operação da usina.
Brent Milikan, do Movimento Xingu Vivo,
chamou a atenção para os impactos ambientais da obra, que poderão
refletir em mudanças climáticas sérias para a região, bem como a grande
dependência do país em fontes hidrelétricas para geração de energia
elétrica, que invariavelmente gera danos ambientais.
O presidente do TCU, ante as
explanações, afirmou que é como estar vendo um filme antigo, pois as
irregularidades relatadas foram presenciadas por ele quando da
construção das hidrelétricas de Paulo Afonso, Xingó e de Sobradinho, na
Bahia, e que esperava que fatos como os narrados não estivessem mais
ocorrendo. Cedraz reafirmou a necessidade do comprimento da Lei
9.433/97, que estabelece os comitês de Bacia e o gerenciamento dos
recursos hídricos no país, que minimizaria problemas como os apontados
em Belo Monte. Segundo Cedraz, o TCU iniciou investigações das
irregularidades em Belo Monte por conta do volume de recursos públicos
envolvidos. A obra que estava orçada inicialmente em 19 bilhões de
reais, já teria custado mais de R$ 30 bilhões, com cerca de 80% destes
recursos, oriundos de fundos públicos, como do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES e de vários fundos de pensão.
G1 Pará
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