terça-feira, 3 de setembro de 2024

Titular da Delegacia da Mulher do Rio de Janeiro, denuncia ex-marido por agressão

 

A delegada Juliana afirma ter apanhado de cinto e ter sido estuprada pelo marido. Segundo ela, o tenente-coronel zombava da posição dela como titular da Delegacia de Atendimento à Mulher.
A delegada Juliana Domingues, ex-chefe da Delegacia de Atendimento à Mulher de Volta Redonda, no interior do Rio, afirma que foi vítima de violência, praticada pelo ex-marido dela, o tenente-coronel da Polícia Militar, Carlos Eduardo da Costa. Atualmente, Eduardo é coordenador de segurança do Tribunal Regional Federal do Rio.Em entrevista concedida ao Fantástico, da TV Globo, a investigadora falou sobre a violência sofrida entre os anos de 2021 e 2021. “Ele falava pra mim, por várias vezes, que ele me agrediu: ‘Eu bato na delegada da Deam. E o que você vai fazer?'”, contou.
“Eu acho importante dividir a minha história, justamente porque eu sei que, infelizmente, muitas mulheres estão passando pelo que eu passei, com medo e vergonha. Eu quero dizer pra elas que elas não se sintam assim. Que existe ajuda, rede de apoio, e que elas têm que ter força de vontade para sair dessa situação”.As agressões do coronel Eduardo, coordenador do Departamento de Segurança Institucional do Tribunal Regional Federal (TRF), da 2ª Região (Rio e Espírito Santo) tiveram início, em 2021, logo após o casamento. O caso foi revelado no Fantástico de domingo, 1.O tenente-coronel responde na Justiça por estupro, injúria e violência psicológica contra a mulher. A Corregedoria Interna da Polícia Militar apura o caso e acompanha o andamento do processo na Justiça. O processo está sob sigilo.A delegada Juliana afirma ter apanhado de cinto e ter sido estuprada pelo marido. Segundo ela, o tenente-coronel zombava da posição dela como titular da Delegacia de Atendimento à Mulher.“Ele falava para mim: ‘Você está vendo? Eu bato na delegada da Deam. E o que você vai fazer? Você vai fazer o quê? Você é uma reles delegada de interior. E eu trabalho com diversos desembargadores. Você acha o quê? A sua palavra contra mim é o quê?’”, lembra Juliana Domingues.“Por muitas vezes, eu apanhava de cinto. Por várias vezes, ele também me fazia contar as cintadas. Uma vez ele me bateu na frente do meu filho, me deu um tapa no rosto. Na época dos fatos, eu era delegada da Delegacia de Atendimento à Mulher. Isso me fez pensar muito. Antes, eu tinha vergonha. Como isso foi acontecer comigo?”, relatou ela.Juliana vinha relatando a uma amiga, desde 2021, que vinha sofrendo uma rotina de agressões, dentro de casa, pelo marido. As mensagens incluem o relato de que a delegada sofreu estupros.São conversas que aconteceram em 2021 e 2022. Em uma delas, em 26 de novembro de 2021, a delegada Juliana primeiro envia foto de uma agressão que sofreu e depois escreve: "Amiga, cada dia piora". Depois, em 2022, a policial conta que conversou com o filho sobre as agressões que vem sofrendo e a seguir, desabafa: "Amiga, eu tô sendo estuprada direto. Eu tô um caco humano"“Na época dos fatos, eu era delegada de Delegacia de Atendimento à Mulher. Eu já fui delegada de 3 unidades de Deams. Na época, eu era uma delegada de Deam. Então, isso me fez pensar muito. Antes, eu tinha vergonha, porque como que isso foi acontecer comigo? Eu sou uma delegada de Polícia. Eu trabalho com isso, e tudo isso aconteceu comigo”, conta a policial.
Violência e estupro
Segundo Juliana, o histórico de violência do ex-marido contra ela era extenso e começou logo após o casamento. Segundo a delegada, as agressões físicas e psicológicas começaram já na lua de mel, juntamente com o ciúme excessivo do então companheiro. “Principalmente quando eu tirava plantão, eu tinha que ficar com a localização em tempo real ligada. Porque ele dizia que eu não estava trabalhando, que eu estava na rua aprontando, e eu trabalhando. Eu tinha que falar pra ele todos os meus passos”.Juliana contou que chegou ao limite um dia quando Eduardo disse que o casal iria ao teatro com duas amigas dele. Ela não se animou com a ideia. “Ele me levou para o nosso quarto, e ali ele me estuprou. Ele fez sexo comigo contra a minha vontade. E eu chorei muito. E eu pedi para ele parar. E óbvio que ele não parou. E ele, quando terminou, virou para mim e falou: “E agora você vai tomar seu banho? Porque o teatro é às 4 horas da tarde.”
Sem conseguir tomar uma atitude por anos, três dias após o episódio, Juliana decidiu entrar em uma delegacia, mas agora, na condição de vítima, e fez uma denúncia. Ela passou por dois exames de corpo de delito. O relatório apontou um hematoma na região malar, ou seja, na maçã esquerda do rosto, um segundo hematoma no glúteo e uma escoriação compatível com unhadas.A polícia interrogou cinco testemunhas, entre elas duas funcionárias do casal. Elas confirmaram que Juliana apresentava marcas de violência física com frequência. Eduardo também foi ouvido. Ele confirmou que tinha o hábito de usar cintos e outros instrumentos durante o sexo, mas que as práticas eram “da vontade deles” e que “tudo era consentido.”Enfrentei toda minha vergonha, na qualidade de delegada que trabalha com isso, de expor como eu estou expondo que fui vítima disso. Quando eu comecei a ver que o que estava acontecendo comigo estava atingindo os meus filhos, isso me tocou muito”, conta.Em agosto do ano passado, Eduardo foi denunciado pelo Ministério Público do Rio por dois estupros contra Juliana, por lesão corporal e violência psicológica. A Justiça aceitou a denúncia, e a primeira audiência está marcada para o mês de setembro.

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