Nervosa e aos prantos, Márcia da Conceição Gonçalves, de 42
anos, disse na 25.ª DP que a desocupação da Favela da Telerj nesta
sexta-feira, 11, "foi um massacre". Ela é mãe do entregador Maycon
Gonçalves Melo, que ficou cedo de um olho ao ser atingido durante a
ação. "Quero registrar um boletim de ocorrência. O (Batalhão de) Choque
cegou meu filho".
Os médicos do Hospital Municipal Souza Aguiar,
no Centro, descartam a hipótese de ele ter sido atingido por projétil de
arma de fogo, mas não fazem menção à bala de borracha. Melo, que é
casado e tem dois filhos, "foi para a ocupação para ter a independência
dele e da família", afirmou Márcia.
Melo saía do barraco quando
levou o tiro. "Eu tinha esperança (de que ele não ficasse cego), é meu
único filho. Era meus olhos, minhas pernas. E agora?", desabafou Márcia,
que teve a perna esquerda amputada quando criança.
Grávida de 7
meses, a cabeleireira Edilene Gomes, de 33 anos, foi resgatada pelo
telhado de casa com os três filhos. Os ocupantes da Favela da Telerj
colocaram fogo em um ônibus que estava parado na frente da casa dela,
perto do prédio invadido. As chamas atingiram o ar-condicionado do
segundo andar, que explodiu. Mãe e filhos pularam o muro e se abrigaram
na casa de vizinhos. "Eu estava deitada quando ouvi um estrondo. Passei
mal quando percebi que o ônibus estava pegando fogo", contou.
Na
25.ª DP, a mãe de um dos seis menores de idade detidos contou que o
filho de 14 anos se escondeu no mercado que foi saqueado ao ver a
confusão. "Eu não criei bandido, eu não criei animal. É assim que
aparecem Amarildos e Cláudias. Meu filho estuda", disse a camareira
Carla Carolina de Souza Figueiredo, de 33 anos. Eles não moravam na
ocupação, mas no Jacarezinho.
Os ocupantes reclamaram da
truculência policial. "Eles acordaram todo mundo com gás de pimenta.
Mandaram a gente levantar e sair logo. Não nos deixaram carregar nada.
Fiquei só com a roupa do corpo", reclamou Valeria dos Santos, de 35
anos, que estava na invasão com o marido e o filho.
A maioria dos
invasores era de favelas próximas, como Manguinhos, Jacarezinho e Rato
Molhado. "Depois que essas comunidades foram pacificadas, os aluguéis
aumentaram muito. Eu pagava R$ 200 e agora pago R$ 500. Não dá", disse
Marilene dos Santos, de 44 anos, que morava em Manguinhos.
O
militante do Movimento de Lutas dos Bairros, Vilas e Favelas (MLB),
Esteban Crescente, de 26 anos, foi autuado por lesão corporal leve.
Segundo ele, "a polícia disse que eu joguei a pedra (no policial)". "A
polícia, mais uma vez, agiu com truculência e violência contra quem só
queria ter onde morar". Depois de prestar depoimento na 25ª DP,
Crescente assinou um termo circunstanciado e foi liberado.
No
Facebook, amigos dele criaram um evento para pedir a liberdade do
ativista, que já havia sido solto. Em 2012, ele foi candidato a vereador
no Rio pelo PDT.
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