No relatório de mais de 200 páginas, chama a atenção a hipótese de que o
Cabo Antônio Figueiredo, conhecido como Cabo Pety, tenha sido
assassinado por outros policiais que integravam a “Milícia do Guamá
Ex-prefeito " Pé de Boto", e Cabo Pety |
O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito que apurava a existência de milícias
no Pará foi divulgado ontem, 30, um dia antes do encerramento da atual
legislatura da Assembleia Legislativa, reconhecendo a existência de pelo
menos quatro grupos de extermínio no Estado, e em ato realizado na
própria sede do Poder Legislativo, na presença do presidente da casa,
Márcio Miranda (DEM) e outras autoridades, que receberam cópias do
material.
O documento pede ainda o indiciamento de cerca de 60 pessoas envolvidas em tais grupos, dentre elas
policiais militares e até políticos do interior. A CPI foi instalada
logo após a série de matanças desencadeada em alguns bairros de Belém
entre os dias 4 e 5 de novembro do ano passado.
A partir do assassinato do cabo Antônio
Marcos da Silva Figueiredo, o cabo Pet, pertencente à Ronda Ostensiva
Tática Metropolitana (Rotam), outros dez homicídios ocorreram quase que
simultaneamente em Belém, nos bairros da Terra Firme, Guamá, Canudos, Marco, Jurunas e Tapanã.
O militar foi morto em uma emboscada no bairro do Guamá, e a matança desenfreada que se seguiu após esse crime chocou a sociedade, só que até agora ninguém foi preso - o inquérito tramita sob sigilo total e a Secretaria de Estado de Segurança Pública
garantiu desde o início estar 100% empenhada em garantir os
esclarecimentos, claro, sem prometer prazos para a conclusão do
trabalho.
Portanto, o que se tem até o momento, quase
três meses após a chacina, é o relatório de 226 páginas feito por
iniciativa do parlamento estadual.No documento apresentado ontem pela
manhã fica claro que existem grupos de extermínio atuando no Estado,
segundo os parlamentares que, ao longo do período em que a CPI esteve
instalada, ouviu autoridades policiais, do Ministério Público,
organizações em defesa dos Direitos Humanos,
policiais militares e testemunhas, todos peças-chave na elucidação dos
fatos. No total, quatro grupos estariam agindo no Pará: um deles no
Guamá, outro em Icoaraci e outros dois nas cidades de Marabá e
Igarapé-Miri.
Nesta última cidade, o grupo seria chefiado pelo ex-prefeito Ailson Santa Maria
do Amaral (DEM), o “Pé de Boto”, acusado de ser mandante e membro nato
de uma organização criminosa, juntamente com seu irmão Hamilton
Nazareno, e outros policiais militares supostamente ligados a ele. Ele
inclusive chegou a ser preso em setembro passado, em plena corrida
eleitoral, quando era tido por seu então candidato à reeleição ao
Governo do Estado, Simão Jatene (PSDB), como “coordenador de campanha no
Baixo Tocantins”.
Foco da investigação, a matança de novembro revelou o perfil do “cabo Pet” como um militar linha dura,
tido como exemplar pelos companheiros de farda e bastante temido no
Guamá, onde era visto como um ardoroso combatente da bandidagem. À época
de sua morte, estava afastado da Rotam por razões de saúde e
respondendo procedimentos disciplinares e inquéritos policiais, dentre
os quais por homicídio, extorsão e abuso de poder.
O relatório informa que o chamado “Núcleo da
Milícia” comandada por Pet era formado por ele e mais três pessoas:
José Otacílio Queiroz Gonçalves, o “Silinho”; Josias Siqueira da
Conceição, o “Galo Cego”; e Walmir Oliveira, o “cabo Oliveira”.Segundo
depoimento prestado por um membro do Ministério Público, “Pet” explorava
um serviço de vigilância
eletrônica, com várias câmeras nos bairros do Guamá e Terra Firme, em
estabelecimentos comerciais com placas “protegidos pelo Pet”.
O militar controlaria os referidos pontos de vigilância eletrônica por meio de um monitor posicionado na varanda de sua casa, bem como também por um tablet que levava consigo no carro.
“Cumpre também ressaltar que, de acordo com
as informações do representante do Ministério Público Militar, o ‘cabo
Pet’ dispunha de relações privilegiadas junto da Rotam, às quais
respondiam prontamente às suas chamadas, além de (sic) haverem diversos
relatos dando conta de que era comum a presença de viaturas da Rotam na
frente de sua casa”, cita um trecho do relatório.
TESTEMUNHO
As informações foram corroboradas pelo
testemunho de um depoente intitulado de “Testemunha X”, que em janeiro
desse ano relatou aos membros da CPI a verdadeira hierarquia da milícia
comandada pelo “Pet”, citando entre cinco ou seis pessoas ligadas ao referido PM, dentre os quais “Cilinho”, “Canana”, “Josias” e “Montanha”.
“Ainda de acordo com a referida testemunha, o
grupo comandado por ‘Pet’ atuaria em vários lugares, a exemplo do
município de Ananindeua a mando do grupo do vereador “Gordo do Aurá”, o
qual contrataria os assassinos do “Pet” para exterminar seus
adversários. Da mesma forma prestariam serviços a ‘Pé de Boto’, prefeito
afastado do município de Igarapé- Miri, o qual terceirizava a morte de
pessoas as quais julgasse necessário eliminar”, informa o documento.
A testemunha relatou ainda que o
quartel-general da milícia estaria localizado na rua Maria Adalberto
Aguiar no Guamá, onde estariam depositados produtos ganhos nas ações: drogas apreendidas para serem repassadas, armas, enfim, o espólio do grupo.
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A CPI foi instalada logo após a série de matanças desencadeada em alguns bairros de Belém no mês de novembro de 2014
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