A caricatura da caligrafia ilegível dos médicos pode ser engraçada em
programas humorísticos, mas é capaz de causar problemas a pacientes e
aos próprios profissionais. A dona de casa Glória Maria Loureiro
Ribeiro, de 75 anos, que o diga.
Com diarreia e dor abdominal, ela foi
ao Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, na última sexta-feira.
Diabética e hipertensa, Glória recebeu atenção prioritária, elogiou o
atendimento médico e saiu da unidade com a receita nas mãos. O que ela
não imaginava era começar uma peregrinação por farmácias.
O marido
da dona de casa, Wilson Ribeiro, de 75 anos, mesmo com dificuldade de
locomoção, procurou sete drogarias, mas não conseguiu comprar o remédio
porque nenhum farmacêutico entendeu a letra do profissional.
Wilson
e o filho Leandro Ribeiro, de 40 anos, voltaram com a receita ao
Getúlio Vargas e foram atendidos pela Chefia da Emergência, mas nem a
chefe e nenhum dos quatro plantonistas decifraram o documento.
—
Fomos bem atendidos, mas como ficam os pacientes com receitas ilegíveis?
Os médicos, por mais que tenham boa vontade, podem acabar prejudicando
uma pessoa com receitas que não são entendidas da forma correta, não só
pelo nome do medicamento, mas pela dosagem — argumentou Leandro.
O
médico Edmar Moreira, de 48 anos, disse se empenhar em melhorar a
caligrafia e ressaltou que a idosa recebeu atendimento adequado e
explicação verbal.
— É uma vida inteira de dedicação à medicina,
residência e especialização. Ofereci bom atendimento à paciente, mas
reconheço que preciso melhorar a letra e estou tomando providências.
Médicos escrevem receitas com pressa porque há muitas pessoas a serem
atendidas. Estou tentando melhorar minha letra e já fiz até cadernos de
caligrafia. Procuro também dar uma orientação verbal sobre a prescrição
médica — explicou.
Código de ética orienta letra legível
A
Secretaria estadual de Saúde informou que o filho da idosa foi atendido
por outro médico, que avaliou a prescrição e o prontuário da paciente e
orientou que as medicações já realizadas seriam suficientes para o
tratamento. Segundo a nota, foi pedido ao parente que retornasse com a
paciente, em caso de permanência dos sintomas. A unidade disse ainda que
todos os médicos estão cientes da clareza necessária na prescrição de
receituário.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de
Janeiro (Cremerj) afirmou que há uma norma no Código de Ética Médica que
diz que todos os médicos devem prescrever qualquer medicamento de forma
legível. Os pacientes que tiverem um atendimento que não siga esta
determinação podem denunciar ao Conselho.
A lei 5991, em vigor
desde 1975, esclarece que “somente será aviada a receita: que estiver
escrita a tinta, em vernáculo, por extenso e de modo legível, observados
a nomenclatura e o sistema de pesos e medidas oficiais”.
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