quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Viúva de engenheiro morto pela PM contesta versão e diz que o marido não usava arma

Jorge Costa Brandão foi baleado e morto porque, segundo uma guarnição policial militar, teria reagido a uma abordagem armado de revólver calibre 38.
Jorge Costa Brandão, 41 anos, engenheiro ambiental, técnico em mineração, funcionário da mineradora Vale há 16 anos e proprietário de um lava-jato, morreu baleado por uma guarnição da Polícia Militar por volta das 0h35 desta terça-feira (19). Segundo Boletim de Ocorrência registrado pelos PMs na 20ª Secciona Urbana de Polícia Civil, ao ser abordado em uma moto, ele fez disparos de revólver calibre 38 na direção dos policiais, os quis responderam à altura disparando contra Jorge, que morreu ao dar entrada no Hospital Geral de Parauapebas.
A viúva de Jorge, Osmarina Silva Félix, contesta a versão dos PMs, afirma que o marido não andava armado nem acompanhado de outra pessoa e diz não entender o que aconteceu. Ela declarou que vai levar caso à Justiça. 
A guarnição relatou na 20ª Seccional que realizava policiamento ostensivo no Bairro Jardim Canadá e, ao passar próximo da Policlínica avistou dois homens em uma motocicleta Honda Biz, rosa, placa QDK-6957-Parauapebas/PA, “em atitude suspeita”. Ao proceder a abordagem dos indivíduos, o que estava na garupa sacou de uma arma de fogo em direção à guarnição, que revidou com disparos para neutralizar a ação do agressor.
Ainda segundo o BO, Jorge Brandão foi socorrido imediatamente e removido Hospital Geral de Parauapebas, mas, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Quanto ao condutor da motocicleta, consta no BO que ele fugiu e não foi localizado pela guarnição. Conforme registrado, com Jorge foi encontrado um revólver, calibre 38, marca Rossi, com numeração raspada e capacidade para cinco munições, duas das quais disparadas; três papelotes de uma substância “com aparência semelhante ao entorpecente conhecido popularmente como crack”; e R$ 2,00.
Dentro do baú da motocicleta foi encontrado um cartão-alimentação em nome de Jorge Costa Brandão e a CNH original 07343497304, pertencente a Osmarina Silva Félix. Nenhum documento de identificação de Jorge foi encontrado com ele.
Colegas de trabalho e amigos de Jorge Brandão admitem que ele costumava usar drogas, mas dizem que ele trabalhador, pessoa de paz e “tinha pavor de armas de fogo”. Por isso consideram estranho que ele tivesse portando um revólver e, ainda mais, disparado contra a polícia.
Viúva contesta o relato dos policiais militares
A Reportagem do Blog ouviu, na tarde desta terça-feira, a viúva do engenheiro, Osmarina Silva Félix. Ela coloca em dúvida a versão dos policiais militares ao afirmar que Jorge Costa Brandão jamais reagiria a uma abordagem policial e vai mais longe ao afirmar que ele nem sequer possuía uma arma.
“Eu não sei o que pode ter acontecido, ele era sim dependente químico havia de 20 anos, mas só usava a droga em casa e nunca saía acompanhado, andava só”, afirma, contando que a moto Biz na qual o marido estava quando foi baleado pertence a ela.
Sobre o fato de a PM ter encontrado uma arma com Jorge, como consta n BO, Osmarina Félix é veemente: “É mentira, ele jamais faria isso, eu sou casada com ele há 23 anos e conheço, a pessoa, tenho com ele duas filhas uma delas menor. Eu estou inconformada, mas Deus sabe o que faz”, disse.
Osmarina informou que o marido trabalhava na Vale havia 16 anos, contou que quando ele chegava do trabalho não parava. Trocava de roupa e ia trabalhar no lava-jato, depois a buscava no trabalho e apanhava a filha na escola.
“Era um bom marido e excelente pai, dedicado à família, não deixava faltar nada”, conta a viúva, relatando que Jorge tinha laudo médico atestando que era dependente químico e que, na única ocasião em que foi detido pela polícia, acusado de tráfico, ela apresentou o documento e o marido foi liberado livre de acusações.
Pela manhã, logo que o caso ganhou publicidade, colegas, amigos e conhecidos do engenheiro também mostraram indignação e afirmavam que o engenheiro não usava armas, “tinha até pavor de segurar uma”. Nenhum deles, entretanto, quis falar formalmente à Reportagem.
Outra pessoa ouvida, um cliente do lava-jato, que também preferiu não dizer o nome, contou que, em determinada ocasião em que deixou o carro para lavar no estabelecimento, minutos depois recebeu uma ligação de Jorge solicitando que fosse até lá retirar uma arma que estava no porta-luvas, pois ele “não se atreveria nem a tocar em uma arma”.

(Caetano Silva)

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