segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Um candidato mal avaliado nas pesquisas, pode ser reeleito?


Sempre que uma pesquisa é divulgada, seja de que instituto for – devido as disputas eleitorais – e certos candidatos aparecem pouco citados, mal avaliados ou com uma alta rejeição, é comum eu receber mensagens com críticas ao instituto ou a quem divulga, muitas vezes por conta da necessidade que militantes e simpatizantes têm em defender aquilo que acreditam ser a verdade ou o que lhe é conveniente, negando os fatos ou dados coletados e analisados pelas metodologias científicas utilizadas nas pesquisas.
Ou seja, mesmo que diversos institutos de pesquisa mostrem que um político está mal avaliado, há sempre quem reclame dos resultados revelados. É claro que em uma democracia, discordar das pesquisas faz parte do jogo político, mas até que ponto há coerência na negação dos números e informações trazidas pela aferição dos institutos?
UM CASO EXEMPLAR
Lembro que em Belém do Pará, nas eleições municipais de 2016, o prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB) era bombardeado por seus opositores, sobretudo o MDB, através dos veículos de comunicação da RBA, com jornal, rádios e tv atacando a gestão dia e noite, potencializando as críticas e cobranças da população como já não fazem hoje.

Zenaldo também estava repleto de processos na justiça, entre os quais, a maioria pedia a cassação do seu mandato, o que chegou a ocorrer, mas ele foi mantido no cargo até o fim, através de recursos interpostos por seus advogados.

Faltando cerca de três meses para sua reeleição e poucos dias para o início da campanha eleitoral daquele ano, o instituto DOXA realizou uma pesquisa encomendada pelo PSDB e constatou a rejeição de Zenaldo Coutinho superior a 70%.

Usando informações da pesquisa, as quais mostravam o bairro que o prefeito estava mais rejeitado e o principal problema da gestão apontado pelos eleitores entrevistados, Orly Bezerra determinou que a produtora contratada levasse o prefeito até uma obra da prefeitura de Belém, realizada no bairro do Guamá. Lá, toda uma estrutura cinematográfica havia sido montada para a gravação do vídeo: Gruas, drones e câmeras se misturavam em meio a tratores, retroescavadeiras em serviço, dragando um canal, outras levantando e movimentando grandes tubulações. Um canteiro de obras.

O vídeo foi ao ar no primeiro programa da coligação de Zenaldo na tv e inicia com um drone gravando o rosto de Zenaldo, que inicia sua fala enquanto o drone se afasta lentamente, revelando o cenário do canteiro de obras, enquanto o candidato fala sobre o suas propostas de futuro, com destaque para as obras que a cidade terá.

Vejam só. O primeiro programa de tv em uma campanha eleitoral inicia no bairro onde o candidato está com os índices de rejeição mais altos e “enfrentando” o principal problema apontado pelos eleitores entrevistados: A falta de saneamento.

Em uma disputa acirrada, Zenaldo venceu o primeiro turno e foi reeleito no segundo.

O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DAS PESQUISAS

A dinâmica da política é, por vezes, uma arena intrigante onde resultados inesperados podem surgir, desafiando as previsões convencionais. Uma das situações mais intrigantes é a possibilidade de um candidato mal avaliado e altamente rejeitado em pesquisas de opinião pública conquistar uma eleição. Embora inicialmente surpreendente, essa possibilidade não deve ser descartada, pois diversos fatores e probabilidades podem influenciar o cenário político até o dia da eleição.

Primeiramente, é crucial compreender que as pesquisas de opinião pública nem sempre refletem com precisão o resultado final de uma eleição. As opiniões dos eleitores podem ser voláteis e influenciadas por eventos de última hora, debates, notícias e outros fatores imprevistos. Candidatos têm a oportunidade de melhorar sua imagem e ajustar sua estratégia de campanha ao longo do tempo, o que pode alterar significativamente a percepção pública.

Além disso, a rejeição de um candidato em pesquisas pode não se traduzir diretamente em votos contrários nas urnas. Eleitores podem optar por votar no “mal menor” se não encontrarem uma alternativa mais atraente. Isso significa que um candidato mal avaliado pode se beneficiar do voto estratégico ou de eleitores que, apesar das ressalvas, preferem seu programa de governo ou partido político.

Outro fator determinante é o contexto político e econômico. Eventos inesperados, crises, escândalos de corrupção ou mudanças bruscas nas condições econômicas podem alterar drasticamente o humor do eleitorado. Nesses momentos de incerteza, os eleitores podem optar por apostar em um candidato aparentemente menos convencional, mas que prometa mudanças radicais.

Além disso, é importante lembrar que a participação eleitoral é variável e muitas vezes imprevisível. Candidatos com alta rejeição podem se beneficiar de uma mobilização intensiva de seus apoiadores, enquanto seus oponentes podem não conseguir estimular o comparecimento às urnas de seus eleitores.

Finalmente, o sistema eleitoral e as particularidades regionais podem criar oportunidades para candidatos com alta rejeição.

Embora a alta rejeição em pesquisas de opinião pública seja um obstáculo significativo para qualquer candidato, a política é um campo complexo e dinâmico. Diversos fatores imprevisíveis e probabilidades podem influenciar o resultado final de uma eleição, tornando possível que candidatos considerados improváveis vençam. Portanto, é importante manter uma visão cautelosa e aberta para todas as possibilidades até o dia da eleição, pois a política é, por natureza, cheia de surpresas e reviravoltas.

Pesquisa eleitoral não é uma previsão e nem tão pouco uma sentença sobre um processo. É tão simplesmente uma fotografia daquele momento, da percepção de determinado político e/ou candidatos. O fato de um candidato aparecer na frente dos demais em uma pesquisa realizada um ano antes, não significa que ele será o eleito, no dia da eleição.

PESQUISAS E MARKETING

As pesquisas eleitorais desempenham um papel fundamental no marketing político e na gestão pública, pois fornecem informações valiosas sobre a opinião pública, o comportamento dos eleitores e as tendências políticas. Aqui estão algumas maneiras pelas quais as pesquisas eleitorais ajudam nesses contextos:

No Marketing Político:Compreensão do Eleitorado: As pesquisas eleitorais permitem que os candidatos entendam melhor seu eleitorado, identificando questões importantes para os eleitores, preocupações específicas e demografia. Isso ajuda na elaboração de mensagens e estratégias de campanha direcionadas.
Avaliação de Candidatos: As pesquisas avaliam o desempenho e a aceitação dos candidatos, permitindo que eles ajustem suas estratégias com base no feedback dos eleitores. Isso pode incluir aprimorar sua imagem pública, ajustar mensagens ou focar em questões relevantes.
Identificação de Eleitores-Alvo: Pesquisas podem ajudar a identificar grupos de eleitores-chave que são mais suscetíveis a apoiar um candidato específico. Isso ajuda na alocação de recursos de campanha de forma mais eficaz, concentrando esforços onde são mais necessários.
Acompanhamento de Tendências: Ao longo da campanha, pesquisas sucessivas permitem que os candidatos acompanhem as tendências de opinião e adaptem suas estratégias de acordo. Isso é crucial para permanecer relevante e responsivo às mudanças na opinião pública.

Na Gestão Pública:Avaliação de Políticas: Pesquisas pós-eleitorais podem ajudar os governantes a avaliar a eficácia de suas políticas e iniciativas. Eles podem medir a aprovação pública, identificar áreas problemáticas e fazer ajustes conforme necessário.
Feedback dos Cidadãos: As pesquisas de opinião pública contínuas permitem que os governantes entendam as necessidades e preocupações dos cidadãos. Isso ajuda na tomada de decisões informadas e na priorização de questões críticas.
Monitoramento da Satisfação: As pesquisas podem ser usadas para medir a satisfação dos cidadãos em relação aos serviços públicos, como saúde, educação, segurança pública e transporte. Isso ajuda os gestores a melhorar a qualidade desses serviços.
Antecipação de Problemas: Através de pesquisas, os governantes podem identificar problemas emergentes antes que se tornem crises públicas. Isso permite que tomem medidas proativas para evitar ou mitigar problemas.
Legitimidade e Transparência: O uso de pesquisas para tomar decisões e moldar políticas pode aumentar a legitimidade do governo, demonstrando que as decisões são baseadas na vontade dos cidadãos. Isso promove a transparência e a responsabilidade.

Em resumo, as pesquisas eleitorais são ferramentas cruciais para entender a dinâmica política e as preferências dos eleitores. Elas desempenham um papel fundamental tanto no marketing político, ajudando os candidatos a conquistar eleitores, quanto na gestão pública, permitindo que os governantes tomem decisões informadas e mantenham a confiança dos cidadãos.

Dito isso, espero que a militância partidária se preocupe mais em analisar as pesquisas eleitorais naquilo que o senso comum nem se importa em ler: a opinião dos eleitores entrevistados sobre os principais problemas da cidade, do estado e do país. É isso mesmo, as pesquisas não perguntam em seus formulários apenas em quem o eleitor quer votar.

Portanto, cabe alertar para quem deseja alcançar vitórias para seus candidatos: parem de criticar as pesquisas e comecem a lê-las com mais atenção.

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