"Além de arabaiana, o tambaqui também tem essa toxina, que é um produto de degradação do peixe, o que ocorre quando ele não é transportado nem acondicionado em temperaturas ideais (de --2 a 8 ºC). O grande problema é que essa toxina não tem gosto", declarou.
"As minhas irmãs comeram esse peixe e ele está aparentemente associado a uma toxina que leva à Síndrome de Haff. Elas consumiram esse peixe e, quatro horas após, apresentaram os sintomas. É um período muito curto, é uma doença rara. A minha irmã [Pryscila] teve um quadro de dor muito grande, ficou rígida, caiu dura no chão", contou Aline Andrade, irmã das pacientes.
Ainda de acordo com a mãe delas, o diagnóstico da doença de Haff foi informado pelo hospital no sábado (20), 48 horas após as duas filhas dela darem entrada na unidade.
Flávia e Pryscila Andrade foram diagnosticadas com Síndrome de Haff, após ingerir arabaiana, segundo mãe e irmã. Uma delas está na UTI. Secretaria de Saúde diz que estado tem cinco casos suspeitos.
Duas irmãs foram internadas em um hospital particular no Recife ao se sentir mal e apresentar dores, após comer peixe da espécie arabaiana. Segundo a família delas, os médicos confirmaram o diagnóstico de Síndrome de Haff, conhecida como "doença da urina preta" (veja vídeo acima). O governo de Pernambuco informou que investiga cinco casos dessa doença rara.
A empresária Flávia Andrade, de 36 anos, e a irmã dela, a médica veterinária Pryscila Andrade, de 31 anos, chegaram ao Hospital Português, no bairro do Paissandu, na área central da capital pernambucana, no dia 16 de fevereiro.
A internação ocorreu horas após almoço, que tinha no cardápio o peixe arabaiana, também conhecido como "olho de boi", de acordo com a mãe das pacientes, a empresária Betânia Andrade. O alimento foi comprado no bairro do Pina, na Zona Sul da capital.
"Flávia fez um almoço na última quinta-feira e convidou eu e Pryscila. Além de nós, tinha o filho de Flávia, de 4 anos, e duas secretárias. Os cinco comeram o peixe, menos eu. Quatro horas depois, Pryscila enrijeceu toda, teve cãibra dos pés até a cabeça e não conseguia andar. Meu neto, de madrugada, teve dores abdominais e diarreia, e as duas secretárias sentiram dores nas costas", disse.
A mãe também contou que, nesta terça-feira (23), Flávia continua no quarto e Pryscila e permanece na UTI.
"Flávia está no apartamento, pois baixaram as taxas dela, como de leucócitos. Já as taxas de Pryscila continuam altas, pois ela comeu uma porção maior do peixe e está com o fígado comprometido, os rins paralisados e com água no pulmão", afirmou Betânia.
Procurado pelo G1, o Hospital Português afirmou que não tem "autorização da família para envio de boletim médico" sobre o estado de saúde das duas irmãs.
A mãe das duas pacientes fez um apelo para que informações sobre a doença sejam mais divulgadas para a população com o objetivo de evitar que casos assim voltem a acontecer.
“Essa é uma síndrome pouco conhecida, inclusive nos hospitais, é uma raridade. A fiscalização tem que bater em cima, pois estamos na Quaresma, quando se come muitos peixes e crustáceos. A população precisa fica ciente que pode haver uma infecção”, relatou Betânia.
Casos da doença em Pernambuco
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que, no fim da tarde da segunda-feira (22), "foi notificada, pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) do Recife, de cinco casos de mialgia aguda, suspeitos para doença de Haff".
A pasta explicou que dá apoio técnico para a investigação epidemiológica conduzida pela secretaria municipal de Saúde do Recife.
"Após a notificação, a SES orientou sobre a investigação epidemiológica de todos aqueles que consumiram o alimento, assim como a coleta do referido insumo para encaminhamento ao Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE) para que sejam providenciadas as análises laboratoriais. A doença de Haff é caracterizada pela presença de toxina biológica presente em pescados", disse.
Ainda segundo a secretaria, Pernambuco registrou, entre 2017 e 2021, 15 casos da doença, sendo dez confirmados (quatro em 2017 e seis em 2020) e cinco em investigação (em 2021).
"Por meio da Rede de Centros de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Rede Cievs), acompanha e mantém toda rede de serviços de atenção e vigilância do Estado alerta para a notificação de casos suspeitos da doença", afirmou.
Também por meio de nota, a Secretaria de Saúde do Recife disse que "os casos estão sendo investigados pela Vigilância Epidemiológica do município".
O que se sabe sobre a doença
As causas da doença de Raff ainda são pouco conhecidas. Ela é uma síndrome de rabdomiólise (ruptura de células musculares) sem explicação e se caracteriza por ocorrência súbita de extrema dor e rigidez muscular.
Outros sintomas são falta de ar, dormência e perda de força em todo o corpo, além da urina cor de café, associada à elevação da enzima CPK, relacionada à ingestão de pescados.
“O músculo vai morrendo e criando uma concentração de proteínas que o rim absorve e vai deixando a urina preta, nos casos mais graves. Se a absorção continuar, causa uma lesão no rim e eles param de funcionar. Por isso, o tratamento dos casos graves é com hemodiálise, para poupar o rim”, afirmou o médico infectologista Filipe Prohaska.
Ele atendeu pacientes com a doença em Pernambuco em 2017 e disse que a síndrome pode deixar sequelas.
"É por causa da lesão renal. Se não for tratada, pode ficar em hemodiálise o resto da vida. E pode ter uma lesão muscular muito grave, chamado astenia pela miopatia, quando a pessoa fica como se não tivesse massa muscular, com dificuldades para levantar e exercer atividades comuns", explicou.
Ainda de acordo com o médico, não é todo tipo de peixe que oferece riscos de a pessoa desenvolver a doença de Haff.
"Além de arabaiana, o tambaqui também tem essa toxina, que é um produto de degradação do peixe, o que ocorre quando ele não é transportado nem acondicionado em temperaturas ideais (de --2 a 8 ºC). O grande problema é que essa toxina não tem gosto", declarou.
Filipe Prohaska listou alguns cuidados importantes para evitar a doença.
"A grande questão é saber a procedência do peixe que você está consumindo. Checar se está sendo bem acondicionado no local da compra, se o local garante a forma como ele foi entregue. Quando comprar peixe na feira, tem que verificar se ele está condicionado no gelo, mantendo a temperatura, ou apenas exposto", disse.
O especialista citou algumas recomendações para quem apresentar sintomas da doença.
"O melhor tratamento é a hidratação rigorosa, tem que beber muita água, pois essa é a forma de eliminar a toxina de forma mais rápida, já que ela sai pela urina. Nos casos mais graves, com a urina escurecendo ou se parar de urinar, o ideal é procurar logo o hospital", contou.
Orientações gerais
Para a população:
Aos primeiros sintomas, busque uma unidade de saúde imediatamente e identifique outros indivíduos que possam ter consumido o mesmo peixe ou crustáceo para captação de possíveis novos casos da doença.
Aos profissionais de saúde:
Observar a cor da urina (escura) como sinal de alerta e o desenvolvimento de rabdomiólise, pois, nesse caso, o paciente deve ser rapidamente hidratado durante 48 a 72 horas;
Evitar o uso de anti-inflamatórios;
Na ocorrência de casos suspeitos, recomenda-se exame para dosagem de creatinofosfoquinase (CPK), TGO e monitorização da função renal.
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