Juliana, autista de 19 anos, foi vítima de conduta brutal e criminosa no CIIR – Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação, em Belém, mantido pelo Governo do Pará, onde ela fazia tratamento odontológico há anos.
Ontem, 16, ela entrou no bloco cirúrgico para limpeza e restauração dos dentes com o dentista Diego José Farias Gomes. Por ser diagnosticada com Transtorno de Espectro Autista grau 3, classificado como severo, o procedimento só seria possível com sedação total, o que já havia sido feito em outras ocasiões, sempre sem intercorrências.
Mas quando saiu 17 dentes tinham sido extraídos, sem o consentimento da família.
Acusado de crueldade, o dentista foi defendido por Marcele Fernandes Miranda, gerente da equipe odontológica, que afirmou ser “normal” tal procedimento e inclusive que já haviam feito diversas vezes em outras crianças e adolescentes autistas.
A gestora chegou a dizer que já houve casos de pacientes que tiveram todos os seus dentes extraídos em uma só sessão, verdadeira confissão de crimes continuados.
A diretoria do CIIR, de acordo com Izabela Martins, irmã de Juliana, não permitiu fotos e não quis entregar o prontuário, embora seja direito da paciente, por lei federal.
Não deram qualquer suporte à vítima e sua família, sequer explicações do porquê, apenas disseram que o dentista viu, durante a cirurgia, que seria necessário arrancar os 17 dentes.
Acontece que a mãe da menina estava ao lado da porta do bloco cirúrgico o tempo todo mas ele em momento algum prestou informação e muito menos solicitou autorização, tampouco o auxiliar.
A família inteira está traumatizada, a menina, banguela aos 19 anos, com muita dor pela intervenção cirúrgica, dano estético e psicológico gravíssimo e irreversível.
Mães e parentes de outras crianças e adolescentes que passaram pela mesma situação estão solidários e exigindo justiça.
No mínimo, a menina e as demais vítimas têm direito a indenização e a implantes dentários a título de reparação, que deverão ser bancados pelo governo do Pará, que tem responsabilidade solidária pelos atos de seus agentes.
Em post nas redes sociais, o governador Helder Barbalho admitiu a extrema gravidade da situação e anunciou ter tomado providências administrativas.
“É muito grave a denúncia de que uma jovem com autismo severo teve dentes extraídos sem autorização da família em um equipamento público do Estado.
Já determinei imediato afastamento do profissional envolvido e abertura de uma investigação para esclarecer o caso e punir todos os responsáveis.
A prioridade agora é prestar todo apoio à jovem e à sua família”.
Essa prática terrível era utilizada em manicômios, para que a pessoa com deficiência não pudesse morder outras pessoas e nem a si mesma.
O que aconteceu no CIIR precisa ser objeto de ação do Ministério Público Estadual e Federal (os recursos da Saúde são federais), da Defensoria Pública do Pará e da União e da OAB-PA.
O tratamento foi desumano, com falta de respeito às mais comezinhas regras, aos direitos humanos e fundamentais, ao princípio constitucional de dignidade humana, com o agravante de ter sido cometido contra pessoa em extrema vulnerabilidade, sem a menor condição de se defender.
Nesta quarta-feira (18), Dia do Orgulho Autista, as famílias reivindicam justiça, políticas públicas e respeito, nada de “lembrancinhas”, tapinhas nas costas, flores, mensagens bonitas e que exaltam o “autismo colorido”.
Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe do Blog do Xarope e deixe seus comentários, críticas e sugestões.