Com visibilidade global e novos investimentos em infraestrutura, o desafio agora é transformar o legado da conferência em crescimento sustentável para o turismo e a economia regional.
A realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30) colocou Belém e o Pará sob os holofotes do mundo.
A capital paraense recebeu investimentos expressivos em obras, infraestrutura e rede hoteleira, com reformas em locais simbólicos, como o Ver-o-Peso e o Mercado de São Brás, além da inauguração de quatro novos hotéis — incluindo um de luxo e um de padrão premium.
No entanto, com o encerramento do evento em 21 de novembro, o setor de turismo avalia com cautela como manter esse impulso e garantir que o legado da conferência se converta em resultados duradouros.
“A COP é uma oportunidade, não um fim.
Ela movimenta a economia e dá luz à Amazônia, mas vai acabar.
Deve ser um meio para impulsionar o desenvolvimento turístico e regional”, afirma Cássio Garkalns, CEO da empresa de inteligência GKS, que há quase três décadas atua com projetos alinhados às métricas ESG.
Para o executivo, o grande desafio é consolidar as melhorias realizadas em Belém e transformá-las em motores permanentes de desenvolvimento.
“O turismo precisa deixar de ser visto apenas como lazer e passar a ser entendido como atividade econômica.
O poder público deve planejar a médio e longo prazo, mas os empresários também precisam se empoderar.
Donos de pousadas, restaurantes e atrativos devem se organizar, criar programas de capacitação e divulgação, e assumir responsabilidades”, defende Garkalns.
Turismo pós-COP: do planejamento ao resultado
A Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa) acredita que o Pará tem potencial para se consolidar como destino de destaque no período pós-COP.
“Confiamos que todo o trabalho de renovação de equipamentos, melhorias e identificação de experiências e atrativos se transforme em um produto turístico.
É um resultado que só veremos no pós-COP”, explica Marina Figueiredo, presidente executiva da entidade.
Em agosto, a Braztoa e a Secretaria de Turismo do Pará realizaram um encontro com operadoras de viagens para apresentar os atrativos naturais, culturais e gastronômicos do Estado.
O evento precedeu a divulgação do Anuário Braztoa 2025, que colocou Belém como o principal destino emergente do país — ou seja, uma cidade fora dos grandes polos turísticos tradicionais, mas com crescimento acelerado na procura de viajantes.
No entanto, o boletim da Braztoa sobre o primeiro semestre de 2025 trouxe um alerta: 41,9% das operadoras expressaram receio de que possíveis falhas de organização durante a COP-30 pudessem prejudicar a imagem de Belém, principalmente por causa da alta demanda e dos problemas enfrentados na hospedagem.
Ainda assim, o setor aposta em novas oportunidades, como o 13º Prêmio Braztoa de Sustentabilidade, que será realizado em Belém no dia 8 de dezembro, reunindo palestras e visitas técnicas para fortalecer o turismo de base local.
Porto, aeroporto e o legado da infraestrutura
Entre as principais obras estruturais entregues para a COP-30 está o Terminal Portuário de Outeiro, ampliado para receber dois navios transatlânticos usados como hospedagem flutuante das delegações internacionais.
A solução foi adotada pelo governo federal diante da limitação da rede hoteleira de Belém.
Inaugurado em 1º de novembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o terminal é visto como uma porta aberta para novos roteiros de cruzeiros internacionais na Amazônia.
“A história do porto não pode se encerrar com a conferência.
Ele pode inserir Belém de vez no circuito mundial de cruzeiros”, avalia Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil, associação que representa companhias de navegaçãoOutro marco foi a modernização do Aeroporto Internacional Júlio Cezar Ribeiro (Val-de-Cans), também inaugurada por Lula no início do mês.
O terminal recebeu novos portões de embarque e desembarque com tecnologia de reconhecimento facial (ABC Gates), reforçando a segurança e agilizando o fluxo de passageiros.
As duas obras estão entre as 22 intervenções realizadas na capital paraense para acolher os 40 mil visitantes esperados pelo governo federal.
Sustentabilidade e inclusão como pilares
Para a coordenadora de Economias do Futuro do Sebrae, Ana Clévia Guerreiro, o verdadeiro sucesso do pós-COP dependerá da capacidade de o Pará transformar o crescimento econômico em desenvolvimento sustentável.
“Não se pode afirmar que um território é desenvolvido se as pessoas foram excluídas dos ganhos econômicos gerados ou se os recursos ambientais foram esgotados. O desenvolvimento sustentável é aquele que assegura renda, inclusão e preservação ambiental e patrimonial”, destaca.
Um levantamento do Sebrae e do Ministério do Turismo revelou que o ecoturismo já representa 60% do faturamento do setor no Brasil.
O dado reforça o peso da Amazônia nesse mercado, especialmente no Pará, onde cresce a busca por experiências autênticas e turismo de base comunitária, que valoriza o contato com moradores e as tradições locais.
Nesse contexto, a GKS e a organização Ocas, iniciativa de impacto socioambiental, firmaram parceria para fortalecer a economia criativa e ampliar o protagonismo das comunidades amazônicas.
Um dos projetos apoia artesãs quilombolas de Vila Cruzeirinho, no Baixo Acará, na criação de sabonetes ecológicos e outros produtos sustentáveis.
“Cada mentoria é um aprendizado.
Estamos aprimorando nossas ideias e levando o negócio a outro patamar.
Saímos de algo comunitário para uma perspectiva de mercado”, relata Bruna Lilian, uma das artesãs beneficiadas.
O diretor de Propósito Corporativo da Ocas, Renato Rosas, explica que o projeto conecta sustentabilidade e inclusão: “A COP catalisa o que temos de mais valioso — a valorização dos saberes amazônicos, o uso consciente da biodiversidade e a geração de renda com baixo custo ambiental”.
Um novo ciclo para o turismo amazônico
Belém e o Pará vivem um momento decisivo.
Após a visibilidade conquistada com a COP-30, o desafio é transformar a atenção internacional em fluxo contínuo de visitantes e oportunidades.
O setor turístico aposta em planejamento, qualificação e integração entre poder público e iniciativa privada para que o estado mantenha sua imagem em alta e consolide um modelo de turismo sustentável e inclusivo, com protagonismo local e respeito à Amazônia.
Fonte : Pará Web News
Por Redação Blog do Xarope , Victor Palheta
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