segunda-feira, 28 de julho de 2025

FEBRE OROPOUCHE AVANÇA PELO BRASIL E ACENDE ALERTA EM ESTADOS FORA DA AMAZÔNIA

Antes restrita à Região Amazônica, a febre oropouche se espalhou rapidamente pelo Brasil em 2024 e já causa preocupação nacional. Até julho, a doença foi confirmada em 18 estados e no Distrito Federal, somando 11.805 casos e cinco mortes — quatro no Rio de Janeiro e uma no Espírito Santo.

Duas outras mortes ainda estão em investigação. 
A expectativa é que, até o fim de 2025, o número de infecções ultrapasse os 13.856 registros do ano anterior.
O Espírito Santo, a cerca de 3 mil km da Amazônia, lidera os números neste ano com 6.318 casos. 
O avanço repentino da doença em regiões onde nunca havia circulado preocupa especialistas e gestores de saúde pública, especialmente porque a população brasileira não tem imunidade prévia contra o vírus.
O que é a febre oropouche?
Causada por um vírus transmitido pelo mosquito Culicoides paraensis — conhecido popularmente como maruim ou mosquito-pólvora —, a febre oropouche provoca sintomas semelhantes aos da dengue e chikungunya, como febre, dores de cabeça, musculares e nas articulações.
Além dos sintomas comuns, a doença pode trazer complicações graves na gravidez, como microcefalia, malformações e até óbito fetal, o que fez o Ministério da Saúde emitir um alerta para que gestantes em áreas afetadas redobrem os cuidados com a proteção contra mosquitos.
Ainda não há comprovação de transmissão sexual, mas a recomendação é que pessoas com sintomas usem preservativo como medida preventiva.
Uma nova linhagem do vírus e o papel do desmatamento
De acordo com o pesquisador Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), os surtos atuais estão ligados a uma nova linhagem do vírus, originada no Amazonas e espalhada por áreas de desmatamento no sul do estado e no norte de Rondônia.
“Essas áreas funcionaram como pontos estratégicos de dispersão do vírus. Pessoas infectadas viajaram para outras regiões sem saber que estavam doentes, já que os sintomas demoram a aparecer”, explica Naveca.
O maruim está presente em todo o território nacional, mas encontra condições ideais de reprodução em áreas úmidas com matéria orgânica em decomposição, como florestas, plantações de banana e regiões periurbanas. 
Somente as fêmeas transmitem o vírus, que também pode infectar animais.
Estudos mostram que eventos climáticos extremos, como secas ou enchentes, afetam tanto a população do mosquito quanto os animais dos quais ele se alimenta, alterando todo o equilíbrio do ecossistema. Um estudo internacional recente apontou que variáveis climáticas explicam cerca de 60% da disseminação da doença. 
O El Niño, por exemplo, teria desempenhado um papel central no surto iniciado em 2023.
Medidas de enfrentamento
O Ministério da Saúde tem intensificado o monitoramento da doença e orientado as secretarias estaduais sobre notificações e encerramento de casos. 
Em parceria com a Fiocruz e a Embrapa, realiza estudos sobre inseticidas para controlar o maruim, com resultados preliminares promissores.
A pasta recomenda medidas preventivas como:
Uso de roupas compridas e sapatos fechados;
Instalação de telas finas em janelas;
Eliminação de matéria orgânica acumulada no entorno das casas.
Espírito Santo: epicentro inesperado
Com pouco mais de 4 milhões de habitantes, o Espírito Santo se tornou o estado com mais casos registrados de oropouche. 
Segundo o subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Orlei Cardoso, a maioria dos 78 municípios capixabas possui áreas periurbanas com plantações, o que favorece a presença do maruim.
“A doença encontrou um terreno fértil: muitos mosquitos e uma população sem imunidade. 
Além disso, os primeiros casos apareceram durante a colheita do café, quando há intenso fluxo de trabalhadores de outras regiões do país, o que pode ter acelerado a disseminação”, afirma Cardoso.
O estado está reforçando o treinamento de profissionais para o diagnóstico clínico da oropouche e sua diferenciação de outras arboviroses, como dengue e chikungunya. 
Agentes comunitários também estão sendo capacitados.
Ceará: da zona rural à cidade
No Ceará, a febre oropouche também virou preocupação. 
O estado registrou 674 casos em 2024, a maioria no Maciço de Baturité, região serrana produtora de banana, cacau e mandioca. Segundo o secretário executivo de Vigilância em Saúde, Antonio Lima Neto, a doença migrou dos distritos rurais para cidades maiores, como Baturité, que tem cerca de 20 mil habitantes.
O Ceará investe em diagnóstico laboratorial e atenção especial às gestantes, após o registro de óbitos fetais e anomalias congênitas ligados ao vírus.
“O controle do maruim é mais complexo que o do Aedes aegypti. Não basta eliminar água parada. 
É preciso criar barreiras químicas entre plantações e áreas habitadas, o que exige testes e produtos específicos”, explica Lima Neto.

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