Se os crimes de pedofilia e exploração sexual infantil registrados no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil já chocam pela brutalidade, o que dizer das vítimas que vivem em comunidades ribeirinhas da Amazônia, a centenas de quilômetros da cidade mais próxima, sem amparo do Estado, longe de delegacias e hospitais, e expostas a todo tipo de violação?
Só no primeiro semestre de 2025, por exemplo, Santarém, no oeste do Pará, registrou 38 casos de abusos contra crianças que vivem às margens de rios e igarapés do município, número que supera todo o ano de 2024, quando foram 35 ocorrências.
O dado escancara uma realidade sombria: a violência sexual contra crianças e adolescentes está crescendo, e o isolamento geográfico amplia o sofrimento das vítimas e a impunidade dos agressores.
O alerta ganhou força após a denúncia feita pelo influenciador Felca, que acusou o também influenciador paraibano Hylato Santos de exploração de menores.
Um episódio que, segundo especialistas, é apenas a ponta do iceberg de um problema de dimensões nacionais e digitais, a internet é hoje o principal ambiente usado por pedófilos para aliciar, abusar e compartilhar imagens e vídeos das vítimas.
No Oeste do Pará, Polícia Federal e Polícia Civil concentram operações contra criminosos que utilizam redes sociais e aplicativos de mensagens para cometer esses atos abomináveis.
E os alvos nem sempre são pessoas marginalizadas: empresários, políticos, comerciantes, médicos e outros profissionais liberais já foram presos.
Em muitos casos, os agressores são membros da própria família, pais, tios, padrastos, irmãos, vizinhos, o que faz com que o crime seja silenciado pelo constrangimento e pela vergonha.
A demora na denúncia e a dificuldade das famílias em identificar sinais de abuso nas crianças são apontadas por especialistas como dois dos fatores mais críticos para o avanço da violência sexual infantil.
Um levantamento do Coletivo Futuro Brilhante, de Belém, aponta que entre 2019 e 2023 foram registrados mais de 19 mil crimes sexuais contra pessoas de 0 a 17 anos no Pará.
Casos que marcaram Santarém e região
Nos últimos anos, Santarém foi palco de casos revoltantes.
Em janeiro de 2025, uma adolescente de 15 anos acusou um médico de estupro dentro de uma unidade de saúde no bairro Salvação.
O profissional foi afastado.
O episódio remeteu à prisão, em 2017, do médico Álvaro Cardoso Magalhães, condenado a 22 anos de prisão por estupro de vulnerável e pedofilia.
Em abril de 2021, a Polícia Federal prendeu em Almeirim um homem condenado a 5 anos de prisão por posse e distribuição de material pedófilo.
Já em julho de 2024, a Operação Ronda Virtual cumpriu mandado de busca e apreensão em Santarém contra investigado por armazenar e compartilhar arquivos com abuso sexual infantil.
O ano de 2025 vem sendo particularmente intenso:
25 de março — Homem preso em flagrante por abusar de criança de 7 anos; câmeras mostraram premeditação do crime.
28 de março — Operação LifeScan em Santarém e Monte Alegre cumpriu mandados contra suspeitos de armazenar e divulgar material de abuso infantil.
6 de junho — Operação Payload apreendeu equipamentos com conteúdo sexual envolvendo crianças.
30 de julho — Homem condenado a 15 anos e 3 meses por armazenar e compartilhar 77 vídeos e 149 imagens de abuso sexual infantil, distribuídos por WhatsApp, Telegram, Facebook e Instagram.
A violência sexual infantil na Amazônia é um crime duplamente cruel: além de destruir a vida da vítima, explora sua condição de vulnerabilidade geográfica e social.
Combater esse flagelo exige vigilância constante, fortalecimento das redes de proteção e coragem para denunciar.
Denuncie:
Disque 100 ou procure a delegacia mais próxima.
O silêncio protege o agressor.
Fonte : Quarto Poder
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe do Blog do Xarope e deixe seus comentários, críticas e sugestões.