terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

As Missões Jesuítas no Rio Tapajós


Pe. Sidney Augusto Canto (*)
O rio Tapajós historicamente foi uma área missionária dos padres Jesuítas. Costuma-se registrar que o primeiro Jesuíta que pisou em terras mocorongas foi ninguém menos que o padre Antonio Vieira, superior dos Jesuítas no Grão Pará. Ele viu o rio Tapajós em 1659 e ao que parece foi um “amor a primeira vista”. 
Mandou posteriormente dois missionários: Tomé Ribeiro e Gaspar Misch. Ambos fizeram catequese e batizaram alguns índios, mas não estabeleceram a tão sonhada missão. Sonhada sim, e até edida, implorada; pois entre a cruz do missionário e a espada do colono, os índios sem pestanejar escolheram a cruz. Não que isso lhes agradasse, mas pelo menos não perderiam totalmente a sua iberdade, pois nas mãos dos colonos não eram nada mais que apenas mão de obra escrava. 
Os jesuítas vieram para ficar com o padre João Felipe Bettendorff. Que finalmente cumpriu, em 22 de junho de 1661, a ordem de Vieira: fundar e estabelecer missão às margens do rio Tapajós. Era mês de junho, mês da cheia do rio, mesmo assim, Bettendorff descreve na sua “Crônica” a existência das praias à margem do grande Paraná-Pixuna (coisa rara de se ver em pleno mês de junho, nos dias de hoje). 

Vila Franca, Rio Tapajós, Santarém
Bettendorff, ainda hoje, é o primeiro cronista a nos oferecer um maravilhoso relato da nossa Santarém de outrora. Infelizmente a obra mais consultada pelos pesquisadores ainda é a “Crônica”, mas existem outras, principalmente cartas, além de catecismos que foram escritos na “língua” dos Tapajós. Mesmo a sua “Crônica” é uma obra pouco conhecida dos santarenos, tais quais outras que são de difícil acesso em nossas escolas e bibliotecas locais. 
Mas com os Jesuítas, que vinham cuidar de apaziguar os ânimos entre os tapuias, veio também o Estado, que tinha pressa em conquistar geográfica e politicamente o vale do Amazonas. E a foz do rio Tapajós foi considerada um ponto estratégico para a defesa dos interesses da Coroa Portuguesa. Foi assim que o alvará régio de 15 de dezembro de 1684 dava a Francisco da Costa Falcão a incumbência de construir fortificações que garantissem a posse política e militar da Amazônia, que àquela altura já estava deixando de ser espanhola e passando a ser efetivamente portuguesa. 

O forte construído possuía, dentro das suas muralhas e baluartes, quatro casas, uma capela, uma sacristia, uma cozinha, uma casa da pólvora, um calabouço e quartéis para a tropa. Assim, além da Cruz, a Espada (canhões e mosquetes também) começou a fazer parte do dia a dia daquela muito antiga terra Santarena. 
Enquanto isso, os Jesuítas avançaram rio acima. E foram descendo índios para a missão. Até o inicio do século XVIII, nas margens do Tapajós, só existia a missão de Nossa Senhora da Conceição dos Tapajós. Na primeira metade dos anos 1700 é que foram sendo fundados novos postos missionários no rio acima. Assim foram sendo fundadas novas Missões:
Em 1722 a Missão de São José com os índios Matapuz (hoje Vila de Pinhel), pelo Padre José da Gama;
Em 1723, a Missão de Nossa Senhora da Assunção com os índios Arapiun e Comaru (hoje Vila Franca), pelo padre Manuel Rebelo;
Em 1737, a Missão de Santo Inácio de Loyola dos Tupinambaranas (caso único na história das Missões no Tapajós em que os índios não foram “descidos”, mas “subidos” da margem do rio Amazonas para cima do rio Tapajós”, hoje Vila de Boim) pelo Padre José Lopes;
E finalmente, em 1738, a Missão de Nossa Senhora da Purificação (ou da Saúde), com os índios Borarí (hoje Vila de Alter do Chão) pelo Padre Mauel Ferreira; 
Tudo parecia que iria caminhar para o bem e prosperidade das missões, quando sobrevieram duas desgraças. A primeira foi a epidemia de varíola, que assombrou nossa região a partir do ano de 1743 em diante, chegando a ceifar cerca de quarenta mil vidas nas aldeias e missões do Grão Pará. Isso afetou diretamente as missões não somente na questão demográfica como também na questão econômica. 
A segunda veio em 1751, quando da chegada do governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, que, tal qual seu irmão, manteve um ódio ferrenho para com os jesuítas e demais missionários religiosos, aumentando as exigências em favor da economia do Reino e tirando o poder temporal das mãos dos religiosos.
Em 1755 era decretado o fim do poder temporal das missões. Em 1757 o Bispo do Pará, Dom Frei Miguel de Bulhões, alinhado a Pombal, extinguiu as missões e transformou-as em paróquias e freguesias. De apenas seis paróquias que havia na época, a Diocese do Pará passou a ter noventa e uma paróquias em questão de semanas. O governador e o bispo criaram as paróquias, mas não dispunham do principal para geri-las: “os párocos”... 
Os jesuítas, convidados a assumir as paróquias, se recusaram, pois não fazia parte de sua índole missionária a função de párocos, submissos ao Estado. Era o motivo que o Governador Mendonça Furtado precisava ter (que já vinha “provocando e criando”, bem como juntando argumentos contra a Companhia) para pedir ao Rei a expulsão dos Padres da Companhia de Jesus da Colônia, fato que veio a ocorrer em 1759. Mas o rio Tapajós não ficaria abandonado... 
(*) É presbítero da Diocese de Santarém, membro da Academia de Letras e Artes de Santarém - ALAS e atual Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós - IHGTap.

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