sábado, 9 de maio de 2020

Cientistas alertaram, em 2007, que consumo de animais exóticos era bomba-relógio porque morcego é “reservatório de vírus SARS-Cov”

A pergunta que continua sem resposta: porque não se escuta à ciência? Chegou-se ao conhecimento público recentemente um estudo, publicado em 2007 – isso mesmo, há 13 anos -, em que um grupo de cientistas chineses fez um grave alerta de que o hábito de consumir a carne de animais exóticos naquele país era uma bomba-relógio para a disseminação do SARS-Cov porque o morcego é um enorme reservatório desse tipo de vírus.
O artigo científico publicado na American Society for Microbiology fazia a seguinte pergunta: “Devemos estar prontos para uma nova emergência de SARS?”
O SARS-Cov é um vírus identificado em 2003. Inicialmente seu “habitat” são animais, mas descobriu-se que ele também infecta humanos através do contato com os primeiros. Uma epidemia de SARS, que começou em Guanddong, na China, afetou 26 países e resultou em mais de 8 mil casos há 17 anos.
O novo coronavírus, o COVID-19, pertence à mesma família do SARS, e como os demais, afeta sobretudo as vias respiratórias. A atual pandemia mundial já contaminou 235 mil pessoas, provocou a morte de quase 10 mil e obrigou países inteiros a entrar em quarentena (veja números atualizados aqui).

Em 2007 já havia o alerta sobre umA possível nova epidemia de SARS
No final de fevereiro, quando o surto do coronavírus já tinha atingido seu ápice na China, o governo daquele país decidiu proibir o consumo de animais selvagens. A decisão incluiu a caça, o comércio, o transporte e o consumo de todos os animais selvagens terrestres, criados em cativeiro ou capturados, como burros, morcegos, veados e pangolins.
Infelizmente, perante a pandemia global, a medida foi tomada tarde demais.

Alertas de cientistas constantemente ignorados

O que mais causa consternação no caso do alerta acima, feito por cientistas em 2007, é que ele foi completamente desprezado.
E ele não foi o único.
Na semana passada, um editorial da renomada revista Science criticou o total desprezo às evidências científicas e cortes em pesquisas feitos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que agora pede pressa no desenvolvimento de uma vacina contra o COVID-19.
No texto, o cientista e editor-chefe da publicação, Holden Thorp, diz ““Faça-nos um favor, presidente. Comece a tratar a ciência com respeito”No artigo, destaca-se como, ao longo dos últimos quatro anos, Trump tem repetido, por exemplo, como o aquecimento globalnão existe e como menosprezou a opinião de cientistas em órgãos governamentais.
O desprezo pela ciência se repete também no Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro afirmou, muitas vezes, que a pandemia do coronavírus era um “estardalhaço da mídia” e ignorou as recomendações de médicos e especialistas sanitários e incentivou aglomerações de pessoas, durante as manifestações pró-governo, no último final de semana, e saiu pelas ruas apertando a mão da população – um ato de completa irresponsabilidade, duramente criticado dentro e fora do país.
Outro caso, idêntico, de como se tem ignorado a ciência e sofrido as consequências por isso, aconteceu na Austrália, durante a última e trágica temporada dos incêndios florestais. Em 2007, os cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU) falaram, relataram e fizeram alertas em seu 4o. relatório de avaliação.
O documento já revelava um panorama perigoso e destacava o impacto do aquecimento global relacionado ao fogo, destacando o risco de incêndios naquele país. Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro, Scott Morrison negava os efeitos da crise climática, continuava investindo na exploração de combustíveis fósseis e ia contra políticas de redução de gases de efeito estufa (leia mais nesta outra reportagem).
Até quando?
Até quando líderes globais continuarão ignorando os alertas da ciência e deixando que milhares de pessoas percam suas vidas e o planeta seja impactado?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe do Blog do Xarope e deixe seus comentários, críticas e sugestões.