segunda-feira, 24 de novembro de 2025

PATRIMÔNIO CULTURAL SECULAR NÃO SE LICITA , SE PROTEGE

Há lugares que não são apenas construções: são capítulos vivos da nossa própria história. A Garapeira Ypiranga é um deles.
Erguida em 1922 por iniciativa privada, com expressa autorização da Intendência Municipal de Santarém, em plena celebração do Centenário da República, ela carrega no próprio nome — Ypiranga — a marca de um país que buscava afirmar sua identidade e projetar seu futuro.
A Garapeira não é um prédio, é uma memória. 
Um pequeno pedaço da cidade que atravessou século, acompanhando transformações, testemunhando alegrias, acolhendo histórias e guardando silêncios. 
É patrimônio cultural material e imaterial; é afeto, convivência, tradição. 
É Santarém na sua expressão mais autêntica.
Dizem que, ali, sob a batuta da família Herbert Farias (leia-se Cacheado), guardiões da receita dos pastéis e da garapa que adoçaram gerações, desfilaram autoridades, artistas, jornalistas, professores e gente de toda parte. 
Presidentes da República já beberam garapa naquele balcão. 
E o cidadão simples, aquele que constrói o cotidiano da cidade, bebia ao lado deles. 
Porque a Garapeira sempre foi isso: um espaço democrático, onde a vida se encontra com a história sem pedir licença.
O Município e o Estado do Pará reconheceram oficialmente sua importância cultural. 
Não foi à toa. 
Ali pulsa uma parte profunda da identidade tapajônica. 
Ali mora um microcosmo do que Santarém tem de mais seu.
E é por isso que causa perplexidade a ideia — tão inoportuna quanto desrespeitosa — de submeter a Garapeira Ypiranga a uma licitação. Um patrimônio secular não se licita: se protege. 
Não se entrega ao acaso da burocracia: se preserva. 
Não se trata como um ponto comercial: se cuida como bem de todos.
A Agenda 2030 da ONU, firmada por 193 países, entre eles o Brasil, no ano de 2015, é clara: a proteção do patrimônio cultural é dever do Estado. 
E a Constituição, nos seus artigos 215 e 216, reafirma esse compromisso. 
A Garapeira atravessou governos, regimes, constituições (1891, 1934, 1937, 1946, 1967, 1988) e crises sem perder sua alma. Só isso já deveria bastar para garantir-lhe respeito.
Fonte : O Impacto
Blog do Xarope via O Impacto

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