domingo, 6 de dezembro de 2015

Depoimento de Robgol é o mais aguardado do caso Alepa

Foto: Fernando Araújo (Arquivo/O Liberal)Cinco dos 14 acusados de fraudes na folha de pagamento da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), com a inclusão de funcionários “fantasmas”, serão interrogados essa semana, entre eles o ex-deputado estadual José Robson do Nascimento, o Robgol, que foi jogador do Paysandu e ídolo da torcida. Ele é acusado de ter se beneficiado com o esquema, incluindo nomes de familiares como servidores da Casa, sem que essas pessoas trabalhassem no Legislativo estadual.
Na época em que o caso veio à tona, foram apreendidos, em operação do Ministério Público e da Polícia Civil, R$ 500 mil, além de R$ 40 mil em tíquete-alimentação da Alepa, na casa do ex-atacante. O interrogatório dele é um dos mais esperados dentro do processo. Essa semana também serão ouvidos Elenise da Silva Lima, Maria Genuína Carvalho de Oliveira, Daura Irene Xavier Hage, Fernando Augusto de Carvalho Rodrigues. 
Nos primeiros interrogatórios, realizados na última semana, a maioria dos acusados confirmou a existência do esquema fraudulento, mas Mônica Pinto - ex-chefe da folha de pagamento e da Divisão de Pessoal da Alepa - foi apontada como idealizadora e pessoa que mais se beneficiava com as irregularidades. Semel Charone, ex-chefe de gabinete civil da Presidência, por exemplo, admitiu que indicou nomes de amigos e familiares, entre eles a própria sogra, o marido e uma empregada doméstica, para figurarem como servidores do Poder Legislativo, sem que eles trabalhassem lá. Porém, alegou que foi pressionada por Mônica a participar do esquema e que era Mônica quem ficava com a maior parte do dinheiro.

Mylene Rodrigues, outra ré, foi além, e afirmou que Mônica pediu documentos de pessoas carentes para fazer um cadastro de doação de brinquedos e alimentos e que a ex-chefe da Divisão de Pessoal inseriu essas pessoas na folha de pagamento da Alepa sem que ela soubesse. Admitiu que eram depositados valores a mais na sua conta do Banpará, que chegavam a R$ 25 mil por mês - além do seu salário de R$ 800 -, mas garantiu que entregava todo esse dinheiro à Mônica e esta, por sua vez, lhe devolvia um percentual bem menor, que correspondia a cerca de R$ 2 mil. Ainda segundo Mylene, receber esse dinheiro foi a condição imposta para que ela pudesse trabalhar na Assembleia.

“Nos próximos, a gente só espera tiroteio em cima dela. Mas todos estão admitindo que recebiam dinheiro ilegal”, declarou o advogado de Mônica Pinto, Luciel Caxiado, sobre o fato dos acusados estarem apontando a responsabilidade das irregularidades apenas para a sua cliente. Segundo ele, isso já era esperado. Com o benefício da delação premiada homologado pela juíza Alda Tuma, Mônica foi a primeira a ser ouvida, dando detalhes do esquema de desvio de dinheiro público que acontecia na Assembleia Legislativa e explicando a participação de cada réu na ação fraudulenta. Declarou que ganhou cerca de R$ 300 mil com as irregularidades.

Os advogados dos demais réus têm criticado o acordo de delação premiada concedido a Mônica. Roberto Lauria, que defende Robgol e Maria Genuína, chegou a dizer essa semana que a “pseudo delação premiada” está cheia de vícios e erros e que Mônica “está jogando um pouco de vingança para alguns desafetos que tinha na Casa”. A delatora teria problemas pessoais com Maria Genuína e também manteve um relacionamento com Robgol, que não teria terminado de forma amistosa.

“A história do Robson é diferente de tudo o que está acontecendo aqui. Diziam que ele tinha mais funcionários que o gabinete permitia. Nós provamos que permitem até 41 servidores e esses servidores não são obrigados a bater ponto. Eles não são nem obrigados a residir em Belém”, declarou Lauria, observando que alguns servidores podem ter que sair de Belém para prestar algum serviço ao parlamentar fora da cidade.

Segundo ele, Robgol tinha 37 servidores. “A coisa pode soar imoral, mas não ilegal. Nós estamos aqui falando de crime, e crime por parte do Robgol não houve”. Ele ainda questiona o fato de Mônica só ter feito acusação contra o seu cliente e não contra os outros deputados, que se valiam da mesma situação, pelo grande número de assessores. Quanto aos valores apreendidos na casa do ex-jogador, Lauria diz que ele é um homem bem sucedido e tinha o costume de não guardar dinheiro em banco. Já os tíquetes encontrados, o advogado ressalta que não foram usados e, inclusive, estavam vencidos.

O interrogatório de Daura Hage - apontada como uma das pessoas à frente dos esquemas fraudulentos e que teve, inclusive, nomes de parentes incluídos na folha de pagamento da Assembleia Legislativa do Estado - também é um dos mais aguardados essa semana. Ela será ouvida sexta-feira. Ana Maria Leal, advogada de defesa de Daura, da filha dela, Danielle Hage, e de Semel Charone, disse que nesse momento em que os acusados estão sendo ouvidos, a verdade está sendo apurada. “O que está sendo demonstrado aqui é que a Mônica Pinto mentiu. Quem tinha ingerência sobre a folha era ela”, declarou Ana Maria.
Segundo ela, a defesa de Daura tentará impugnar o acordo de delação premiada. “O Ministério Público não quer admitir que foi vítima de uma grande falácia da Mônica Pinto. Ela fazia as inserções fraudulentas em uma sala fechada, que não permitia a entrada de ninguém. Em nenhum momento as pessoas disseram que a Mônica trabalhava sozinha, ela tinha uma equipe que trabalhava com ela, mas colocou a máquina de contracheque na sala dela”. Quanto à participação de Daura Hage, Ana Maria Leal diz que sua cliente foi usada para captar nomes de fantasmas.

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