"Resultados do grupo de estudos multidisciplinar serão apresentados durante a semana aos ribeirinhos".
A pedido do Ministério Público Federal,
um grupo multidisciplinar de pesquisadores e especialistas em várias
áreas se debruçaram sobre o problema dos ribeirinhos expulsos de seus
territórios nas margens do rio Xingu pela usina de Belo Monte. O grupo
inclui antropólogos, ecólogos, ictiólogos, sociólogos, juristas,
hidrólogos e engenheiros que se dedicaram a pesquisar a situação social,
jurídica e ecológica do rio após o fechamento da barragem: do lado que
foi alagado, houve a remoção compulsória dos moradores, do lado que teve
a vazão reduzida, a falta de água e peixe ameaça a vida de todos.
O objetivo é apontar caminhos que
permitirão o retorno dos ribeirinhos removidos e a garantia da
manutenção do modo de vida na Volta Grande do Xingu. As soluções podem
ser inéditas na história de barragens no país e servir de modelo para o
tratamento dos ribeirinhos afetados por outros empreendimentos. O
trabalho dos especialistas teve a participação de pesquisadores da
Universidade Federal do Pará, Universidade de São Paulo, Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, Universidade Estadual de Campinas,
Fundação Getúlio Vargas, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Durante a semana, os trabalhos serão
coordenados pela professora Manuela Carneiro da Cunha, indicada pela
SBPC. Os estudiosos analisaram os impactos na região e as alternativas
para compor uma proposta para proteção e recomposição ambiental do rio
Xingu. Foram três grupos de ribeirinhos severamente atingidos por Belo
Monte que não tiveram seus direitos reconhecidos e passaram por um
processo de expulsão do rio: moradores da área que hoje é o reservatório
de Belo Monte, moradores da área da Volta Grande do Xingu e indígenas
nas duas áreas. Eles foram invisibilizados no processo de licenciamento
ambiental da usina.
Os resultados do grupo de estudos
multidisciplinar serão apresentados durante a semana aos ribeirinhos
para a conformação de propostas que serão apresentadas ao governo
brasileiro em uma audiência pública na próxima sexta (11/11). A
presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Suely
Azevedo, confirmou que vai estar presente na audiência, assim como o
Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas), Luiz
Fernandes. O Ministério Público Federal, que solicitou os estudos e
promove a audiência pública, convidou também o Ministério do Meio
Ambiente e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade,
que ainda não confirmaram presença.
“O MPF está chamando o governo para
dialogar sobre essa situação”, explica a procuradora Thais Santi, que
vai coordenar a audiência pública e também uma visita das autoridades as
áreas ribeirinhas afetadas, para que verifiquem in loco a gravidade das
violações de direitos dos povos que viviam no Xingu antes de Belo
Monte.
Os moradores da área onde hoje fica o
reservatório da usina sofreram um processo violento de remoção
compulsória no ano de 2015, quando a Norte Energia passou a retirá-los
sem considerar as peculiaridades de seu modo de vida, que dependia do
rio e da cidade. Pessoas que viveram sempre de pesca e agricultura foram
removidas, com indenizações irrisórias, e passaram a ocupar áreas
periféricas no núcleo urbano de Altamira, longe do rio e sem qualquer
possibilidade de reconstruir suas vidas.
As violações também são graves na região
da Volta Grande do Xingu, onde não houve remoção de moradores, mas
alteração brutal dos ecossistemas, com o desvio de mais de 80% da água
do rio para movimentar as turbinas da usina. A região, batizada nos
documentos do licenciamento ambiental de Trecho de Vazão Reduzida (TVR),
não oferece mais condições ecológicas de sustentar as famílias
ribeirinhas, tanto indígenas quanto não indígenas.
O MPF convidou ainda para a audiência
pública as seguintes autoridades e instituições: Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência; Casa Civil e Secretaria de Governo da
Presidência da República; Estado do Pará, Município de Altamira;
Ministério do Meio Ambiente; Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República; Conselho Nacional de Direitos Humanos;
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis; Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade;
Fundação Nacional do Índio, Agência Nacional de Energia Elétrica;
Agência Nacional de Águas; Secretaria de Patrimônio da União;
Concessionária Norte Energia S/A e órgãos representativos das populações
tradicionais extrativistas.
Fonte: MPF
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