quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Do que a gente está sendo acusado? diz ONG após ter material apreendido em ação contra fogo em Alter do Chão, em Santarém

Polícia do Pará prende quatro brigadistas suspeitos de causar incêndio em Alter do Chão e cumpriu mandados na sede da ONG Saúde e Alegria. — Foto: Divulgação
Polícia cumpriu mandados na sede da ONG Saúde e Alegria
Escritório do Projeto Saúde e Alegria, em Santarém, foi alvo de busca e apreensão de materiais nesta terça (26). Um funcionário da ONG, que também é brigadista voluntário na cidade, está preso preventivamente.
O diretor do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino, em Brasília que desconhece os motivos que levaram uma ação policial a apreender computadores e documentos na sede da ONG em Santarém (PA).
"Não sabemos até agora do que a gente está sendo acusado, porque foram até o nosso escritório sem decisão judicial, com um mandado genérico, para apreender tudo. Do que a gente está sendo acusado? Não tivemos nem acesso ao inquérito”, disse Caetano.
A Polícia Civil suspeita que os voluntários da Brigada - entre eles o funcionário da ONG - tenham colocado fogo na floresta para receber doações e que a Saúde e Alegria tenha sido usada para captar recursos repassados para a Brigada. O uso irregular do CNPJ da ONG foi negado por Scannavino.
Caetano Scannavino, diretor da ONG Saúde e Alegria — Foto: Nicole Borges/G1Segundo Scannavino, o funcionário detido já estava mudando de emprego antes mesmo das denúncias. O diretor da entidade ressaltou que a polícia só apontou indícios e não falou como os quatro detidos estavam envolvidos no fogo criminoso.
"Para mim isso soa como uma piada, salvo que esses meninos sejam atores. Conheço eles, são pessoas que eu espero que a gente tenha mais pessoas como eles. (A acusação) é um tamanho absurdo que eu sinto dor pelas comunidades parceiras e pela nossa equipe, pelo que eles passaram hoje pela manhã" - Caetano Scannavino
O diretor da ONG refutou qualquer irregularidade no uso de dados da ONG e ressaltou que todas as prestações de contas da entidade são públicas.
"Daqui a pouco vão prender quem está limpando petróleo na praia" - Caetano Scannavino, diretor da ONG Saúde e Alegria
A ONG Saúde e Alegria está localizada em Santarém e tem diversos projetos na região, como a instalação de placas de luz solar em comunidades e o incentivo de produção agrícola sem o uso do fogo. A ONG tem, ainda, um projeto na Reserva Extrativista Tapajós-Aripuns, com a comunidade local.
Coletiva em Brasília
Depois da entrevista de Scannavino, que foi realizada em um dos corredores da Câmara dos Deputados, parlamentares conversaram com a imprensa sobre a operação. Entre as críticas, os deputados da oposição afirmam que houve armação na prisão para criminalizar as ONG, e lembraram que, no passado, o presidente Jair Bolsonaro já tinha acusado, sem prova, as entidades.
"Isso mostra claramente uma armação que está se montando e se construindo, uma narrativa para poder dar razão ao discurso feito pelo presidente (Jair Bolsonaro) que quer buscar a acusação a terceiros", disse o deputado Edmilson Rodrigues (PSOL-PA)
"Nós não vamos aceitar que desenvolvam uma tese de que foram os ONGs, os ambientalistas os criminosos. Daqui a pouco vão dizer que foram eles que fizeram o Dia do Fogo. Nós não vamos aceitar a criminalização de movimentos sociais e de ONGs."
Operação Fogo do Sairé
O delegado de Polícia Civil José Humberto Melo Jr. diz que, depois de dois meses de investigação, os indícios apontaram para o possível envolvimento de ONGs no incêndio, dentre elas a Brigada de Alter do Chão.
Segundo Melo Jr., os indícios que levaram à prisão dos quatro suspeitos vieram depois de escuta telefônica feita com autorização judicial.
O advogado de defesa dos suspeitos, Wlandre Leal, disse que só vai se manifestar depois que falar com os delegados. Em nota, a Brigada disse que está "em choque com a prisão de pessoas que não fazem senão dedicar parte de suas vidas à proteção da comunidade, porém certos de que qualquer que seja a denúncia, ela será esclarecida."
O delegado apontou que toda a movimentação dos quatro suspeitos foi acompanhada no período. "Percebemos que a pessoa jurídica deles conseguiu um contrato com a WWF, venderam 40 imagens para a WWF para uso exclusivo por R$ 70 mil, e a WWF conseguiu doações como do ator Leonardo DiCaprio no valor de US$ 500 mil para auxiliar as ONGs no combate às queimadas na Amazônia”, disse Melo Jr.
Em nota, o WWF Brasil rebateu as afirmações.
"O WWF-Brasil não adquiriu nenhuma foto ou imagem da Brigada, nem recebeu doação do ator Leonardo DiCaprio. Tais informações que estão circulando são inverídicas. O WWF-Brasil está acompanhando o desenrolar da operação e está em busca de informações mais precisas das acusações." - nota do WWF Brasil
O delegado afirmou ainda que Brigada é um projeto que se autocontratava usando o CNPJ do Instituto Aquífero Alter do Chão e recebia doações pelo CNPJ do projeto Saúde e Alegria (PSA). E que as investigações apontaram que a intenção dos brigadistas com os focos de incêndio na APA Alter do Chão era captar dinheiro para o projeto.
Segundo Melo Jr, a polícia investiga a participação da ONG Projeto Saúde e Alegria (PSA) no recebimento de doações para a Brigada. Os voluntários, de acordo com o delegado, teriam recebido cerca de R$ 300 mil para a Brigada através do CNPJ do Saúde e Alegria e também da ONG Instituto Aquífero Alter do Chão.

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