Um total de 61,2% dos domicílios no Pará estão em Insegurança Alimentar, sendo 34,1% em Insegurança Alimentar Leve; 16,1% em Insegurança Alimentar Moderada e 11% em Insegurança Alimentar Grave. Os números refletem a gravidade da situação não apenas no Brasil, mas no mundo todo, como alertou, nesta quarta-feira (3), a presidente do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-7), Yonah Figueira. Por causa desse cenário e aproveitando o Dia Mundial da Saúde e Nutrição a transcorrer nesta quinta-feira (31), o Sistema Conselhos Federal e Regionais de Nutricionistas (CFN/CRNs) inicia a campanha “Você Tem Fome de Quê?”, em alusão ao Dia Mundial da Saúde e Nutrição, no dia 31 de março.
Segurança alimentar é a situação em que a família/domicílio tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. A Insegurança Alimentar Leve é quando há preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro ou a qualidade dos alimentos é comprometida para manter a quantidade de alimentos necessária para a família. A Insegurança Alimentar Moderada se dá quando há redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos.
Já a Insegurança Alimentar Grave é a redução quantitativa de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo as crianças. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.
Em Belém, não é difícil de se ver pessoas revirando latas de lixo em busca de alimentos e também coletando gêneros no piso de feiras livres e mercados. “Eu vejo, todos os dias, muita gente procurando comida aqui, na feira. Elas pedem frutas, pegam o que cai no chão, e não é só mendigo, mas pessoas pobres, famílias que não conseguem comprar comida pela falta de dinheiro. E no pique da pandemia essa situação ficou ainda pior”, revelou Amauri Ferreira, 42 anos, feirante na Feira da Pedreira. Ele tem 27 anos de experiência nessa profissão.
Sensibilização
A ação do CFN e conselhos regionais visa sensibilizar os nutricionistas, estudantes de Nutrição e técnicos em Nutrição e Dietética, a sociedade civil organizada e gestores para uma reflexão sobre o estado de insegurança alimentar de mais de 118 milhões de pessoas no mundo e dos cerca de 20 milhões que estão passando fome no país.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), existem 811 milhões de pessoas no mundo passando fome. No Brasil, os últimos levantamentos realizados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN - 2021), em cerca de 55,2% dos domicílios os habitantes conviviam com a insegurança alimentar (IA), um aumento de 54% desde 2018 (36,7%). Em números exatos, 116,8 milhões de pessoas estão em situação de IA e 19,1 milhões em situação de IA grave. Porém, especialistas destacam que esse número já deve ser superior às 20 milhões de pessoas com fome no Brasil.
O CRN 7 informa que a Região Norte apresenta índices ainda mais preocupantes no cenário brasileiro, com 60% de sua população em situação de insegurança alimentar. A estimativa é de que, entre os 15.784.923 habitantes da região, 4.893.907 vivenciaram insegurança alimentar leve; 2.219.719, insegurança alimentar moderada; 2.849.319 passaram por insegurança alimentar grave (fome); enquanto apenas 5.821.979 estiveram em segurança alimentar.
A campanha traz a música “Fome”, da banda Titãs, como mote para sensibilizar as pessoas sobre os problemas gerados pela insegurança alimentar, no país que mais produz alimentos no mundo. Com foco nas redes sociais, a iniciativa finaliza as ações com uma projeção mapeada na fachada do Museu Nacional, em Brasília (DF), a partir das 19h, nesta quinta-feira (31), mostrando peças da campanha e frases de impacto para chamar a atenção da sociedade brasileira sobre o grave problema instalado no país.
Yonah Figueira chama a atenção para o fato de que o Pará tem uma das mais caras cestas básicas do Brasil e com pandemia muitas pessoas ficaram sem renda, sem emprego, e a situação da fome se agravou. “As pessoas acabam substituindo o alimento natural pelo industrializado que é um pouco mais caro, e essa situação faz com que as pessoas tenham um limite de acesso ao alimento”, observa. A exportação de alimentos locais acaba também encarecendo o que fica na região. Em plena Amazônia, com a fartura de tipos de alimentos, a fome é mais grave na zona rural, no interior, daí a necessidade de investimentos, de políticas públicas “na reeducação da população em investir no que é regional”, de se organizar hortas de subsistência, criar animais nos quintais como pontua Yonah.
A nutricionista destaca que se deve investir na educação para que os cidadãos possam obter empregos com salários e, assim, possam ter acesso ao alimento, e não se restringir a medidas emergenciais. “No mundo, o Brasil é um dos países que mais desperdiçam alimentos, na faixa de 20%. Então, uma sugestão é o aproveitamento integral dos alimentos, o caule, a folha, a raiz, a semente; toda a composição do alimento tem um valor nutricional”, observa.
com informações OLIBERAL
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